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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
Sangue da Rocha
Tiago Crisostomo Guerra
São Paulo/SP
A roupa toda estava ensanguentada. Anselmo corria como se soubesse
exatamente o seu destino. Era justamente o contrário: era uma zebra espavorida
fugindo de uma fera. O seu refúgio era a velocidade dos seus passos. De longe
parecia um borrão vermelho veloz. Sede e tensão pressionavam o corpo
debilitado. Seus pensamentos pareciam acompanhar a velocidade do corpo, e
como num terremoto um se chocava no outro. A imagem de uma rosa se impôs
na sua mente, mas um homem com um capuz negro se aproximava e
pressionava a flor como se fosse um cacho de uvas bendito de Canaã. Saía um
suco vermelho, vermelho de sangue, que ia crescendo até virar um rio carmesim
no qual Anselmo se afogaria.
Embebido no sangue real e mental, não percebia o toldo negro que se
formava nos céus anunciando que logo cairia uma pesada chuva. As janelas dos
céus se abririam como um novo dilúvio determinado a extirpar a raça humana?
Ele pereceria enfim e seria apagado da face da terra e ninguém mais faria
menção de seu nome? Ele que tanto se gabava: “Aqui em Serra Velha quem não
conhece Anselmo?” Num conúbio imprevisto sangue e água se uniam no corpo
estreito de Anse lmo. O fluido misto escorria pelo seu corpo e parecia querer
fecundar o chão. O vermelho ralo era semeado entre pedras e folhas. A chuva
vergastava o homem como se os céus tivessem uma cólera reprimida contra ele.
Tentou emitir uma petição a qualquer divindade desconhecida como se quisesse
aplacar a ira crescente. Porém, num impulso reteve o clamor como se pudesse
extrair força de si mesmo e proclamar sua autorredenção.
Ele cada vez mais ofegante. Os céus se convulsionavam. Corria como se a
cada momento a terra fosse se abrir e engoli-lo como um anátema das histórias
bíblicas. Mantinha ainda seu luxo de passar as mãos pelos cabelos, que agora
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