Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 9ª edição | Page 112

LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018 Piloto Automático Grazielle Pacini Segeti São Paulo/SP Olho pela janela e o que vejo? Andantes, pedintes e carros – todos trafegam como que sem rumo em uma vida vazia, regida por um sistema, ordens, prazos e metas. Tudo a se cumprir, a se realizar. Não vejo mais flores, nem vejo o luar, O brilho do sol, aves a cantar. É tudo sem vida, sem graça no olhar. Prazer, alegria e encanto não há. Só um piloto automático a todos guiar. Crianças não brincam, Marias não fazem mais roda para conversar. Não há cadeiras nas calçadas. Vizinhos sorrindo, ninguém mais os vê, uns saem cedo, outros voltam tarde. E, quando se encontram, são apenas estranhos e um simples “Bom dia, como vai você?” Os tempos de outrora não voltam jamais. Então, lá perdida, vejo uma criança com ar de esperança perdido no olhar. Consigo, um sorvete pingando no braço. O dia está quente, merece esse alento e sai a pular. Em sua pureza, me alegro e sorrio, respiro e suspiro, nem tudo é perdido, há vida pra amar. 107