Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 9ª edição | Page 109
LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
lhe conferirá resposta. Vai à água de onde viemos. Evoca o deus de nossa
proteção. Pede a ele luz em decisão.
Dessa forma agiu Ypané. Usando o cocar de respeito, nas margens do
Piracicaba, clamou por clarividência. Naquele instante, fruto da chuva abundante
que insistia em cair, jorrou do alto de uma encosta uma bela cachoeira que lá não
havia. E, no cair da água ao rio, misturou a terra do fundo com sua limpidez.
Ypané entendeu.
Recebeu ao português. Este trouxe presentes. Ypané percebeu que recebia
em sua casa a víbora da demolição. Paiaguás e portugueses viveram em relativa
harmonia. Até que em 01 de agosto de 1767, com pompa e galhardia, Ypané
assistiu a entrada e fundação do que outrora fora somente sua aldeia, um
povoamento que os anos iriam dar o nome de Piracicaba.
O povoador seguira as ordens do império português. De Ypané e dos seus
pouco ou nada conhecemos. A história é cruel aos vencidos e dominados. Mesmo
aos que se curvam sem se quebrar. A aldeia de Ypané foi ponto de apoio para as
embarcações vindas do Tietê e que protegiam o Forte de Iguatemi na fronteira
com o Paraguai. Os Paiaguás foram lanceiros de infinita ajuda ao Brasil na Guerra
do Império, membro da Tríplice Aliança contra Solano Lopes.
Talvez Ypané tenha tombado por lá. Guiando a soldadesca pelos rios dos
Pampas. Ypané é glória caipira, entendendo esta pelo espírito simples que norteia
os que vivem da terra. Paiguás estão extintos. Pelas doenças dos brancos. Ou
pelos brancos doentes.
https://www.facebook.com/rogerio.ferreiragoncalves1
104