Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 99

LiteraLivre nº 3 Pânico de Aeroporto Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP Entendo, sim, ah, como entendo! Você passou pela pior experiência de sua vida e está traumatizado; teve um colapso nervoso, quase perdeu o avião, passou meses à base de tranquilizante e o psiquiatra desistiu de tentar tratar você. Você agora quer cancelar as férias, desistir da viagem planejada pela família, seus filhos o odeiam e a mulher quer o divórcio, A situação pede medidas desesperadas, eu sei. E creio ter a solução. Eu, como você, vivi minha primeira experiência de horror na maturidade, na frente de filhos na pior idade, sentindo a pressão interna de ser o modelo, de dar exemplo, corresponder à imagem de pai herói, essas imposições mentais que nós, simples mortais orgulhosos, sofremos antes de conhecer o tamanho do monstro. Em Guarulhos o estresse de aeroporto foi administrável. Vai-se ao banheiro com um olho nas crianças e outro nas malas. Em minha primeira viagem, as danadinhas não tinham quatro rodas, como as de hoje. Meu batismo de fogo foi Toronto, onde eu fiz conexão e precisei fazer o translado das malas. Confiante em meu francês, logo descobri que fora de Quebec quem se exprime em francês, no Canadá, são somente as placas. Ante o meu ar desesperado, um funcionário solícito chamou por outro, que "falava a minha língua": espanhol! Enveredei por corredores sinuosos, desci, subi, enganei-me, refiz o percurso suando, embarquei em um pau-de-arara versão aeroporto, um ônibus que transportava gente em pé e de alguma forma as malas e as crianças tinham de ser contidas - como? Em meio a olhares furiosos e 93