Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 93

LiteraLivre nº 3 menino escutou. Sim, estás. O besouro daqui é mais letal. Tudo aqui vai ser visto por ti como quem é olhado por um enfermo. Aqui é o mundo dentro do mundo. Aqui é o perto e o longe. Por isso, estás perdido. Mas é assim perdido que se encontra o jardim, disse o menino, quase sorrindo. Quebra-me, salva-se, é a lei. E prossiga. Ele ouvia e não entendia. Quis voltar, mas algo o paralisava. Nem olhar para trás ele conseguia. O coração estava ligeiro, ele ouvia. E aquele som se confundia com um tambor distante, que parecia que vinha, que se aproximava. O menino fez um gesto de quem ouvia. Está ouvindo? O teu coração é quente, cai bem para o estômago de um faminto. Quebra-me. Sentiu-se preso. Aprisionado. A noite inteira era uma prisão. Desapareceu a ideia do amanhecer. Era o mundo uma grande noite, e ele precisava reagir. Deu um passo para trás. Pisou uma folha barulhenta. O menino silenciou. Parecia algo esperar. Não aconteceu nada. Deu outro passo para trás. As folhas eram o próprio chão. O menino gritou. Um grito horripilante. Um salto de medo levou o homem para trás de uma vez. Caiu. Quando levantou, o menino já estava caído. Olhou ao redor. Nada. Ventava mais frio. Era um vento frio, muito frio. Sentiu a sua pele fria. Foi até o menino jazido. Morto. Ele estava morto, meu deus! O que faria? Olhou novamente ao redor. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Tocou. Estava tudo frio. Chegou o medo. Quis fugir. Por impulso, correu. Se algo havia matado o menino, poderia matá-lo também. Correu. Correu o mais rápido que pôde. Sentiu o coração bater. Correu até sentir calor novamente. E sentiu. Encontrou, sem procurar, a cidade outra vez. Saiu de um beco. 87