LiteraLivre nº 3
Olhos Selvagens
Glauber Costa
Manacapuru/AM
Fechando
o
portão,
apressado,
para
voltar
ao
computador,
percebeu a presença, na rua, das borboletas. Elas passavam de um lado
para o outro, mesmo quando passavam carros. E circulavam, uma
solitária ali, outra voando mais alto, por entre as pessoas, as motos, as
bicicletas e os outros animais. O que faziam? O que será que fazem as
borboletas? Pensou. Enquanto a vida humana se ansiava, elas estavam
tão perto. Procurariam algo? Algum tesouro esquecido? Algo debaixo da
terra, que não dá mais para cavar?
Recordou que à noite passavam sempre uns morcegos. Refletiu se
os bichos de asas não seriam menos perceptíveis. Pela manhã, havia os
passarinhos no quintal. O que faziam ali, naquela cidade tão entediante,
aqueles bichos com asas? Por que não voavam para longe, para outros
lugares maiores, alguma floresta, um jardim? Mas não, ficavam ali.
Filosofou. E subitamente sentiu-se acompanhado. Depois, suspirou
tranquilo, como se anjos estivessem pousados para fazer companhia a
ele. Como se eles estivessem tecendo, pacientemente, o tempo para
ele, e para todos os que moram ali, um dia poderem voar.
Chegou, enfim, de volta ao computador e logo viu na tela inicial
uma paisagem campestre. A tela estava assim já fazia dias, muitos dias,
e ele não tinha percebido nada de especial. As paisagens e as asas
estavam camufladas, constatou. E nem era uma cidade grande,
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