Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 90

LiteraLivre nº 3 Olhos Selvagens Glauber Costa Manacapuru/AM Fechando o portão, apressado, para voltar ao computador, percebeu a presença, na rua, das borboletas. Elas passavam de um lado para o outro, mesmo quando passavam carros. E circulavam, uma solitária ali, outra voando mais alto, por entre as pessoas, as motos, as bicicletas e os outros animais. O que faziam? O que será que fazem as borboletas? Pensou. Enquanto a vida humana se ansiava, elas estavam tão perto. Procurariam algo? Algum tesouro esquecido? Algo debaixo da terra, que não dá mais para cavar? Recordou que à noite passavam sempre uns morcegos. Refletiu se os bichos de asas não seriam menos perceptíveis. Pela manhã, havia os passarinhos no quintal. O que faziam ali, naquela cidade tão entediante, aqueles bichos com asas? Por que não voavam para longe, para outros lugares maiores, alguma floresta, um jardim? Mas não, ficavam ali. Filosofou. E subitamente sentiu-se acompanhado. Depois, suspirou tranquilo, como se anjos estivessem pousados para fazer companhia a ele. Como se eles estivessem tecendo, pacientemente, o tempo para ele, e para todos os que moram ali, um dia poderem voar. Chegou, enfim, de volta ao computador e logo viu na tela inicial uma paisagem campestre. A tela estava assim já fazia dias, muitos dias, e ele não tinha percebido nada de especial. As paisagens e as asas estavam camufladas, constatou. E nem era uma cidade grande, 84