Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 82

LiteraLivre nº 3 mais cheio de ternura de sua liberdade, ainda que um amor platônico e meio a sua malfadada desventura financeira. A jovem e bela Justine também teria sido fruto do ocaso do poço ao luar, seu patrão, o ferreiro Joaquim contava-lhe que ao deflorar sua amada mulher descobriu que ela era estéril. Assim Joaquim clamou ao Deus do alto e o poço do baixo o qual a fundura não se podia desvelar, depositou toda semana um dobrão naquele poço até que com os meses a resposta lhe sobreveio pela esperada gravidez de sua mulher. Joaquim que conhecia terras inglesas assim batizou Justine por considerar justiça e gracejo do insondável poço o qual somente se poderia vislumbrar pelo ribombar dos sons dos dobrões caindo em seu fundo. Muitas eram as histórias de desejos atendidos por coincidência e sorte ou destino dos deuses e orixás. Mas João ainda que um crente no Deus dos cristãos passou lá depositar moedas junto com sua fé, na esperança de que seu desejo se concretizasse. Durante o primeiro mês João passou depositar todos os sábados suas finanças e esperanças, mas como num infortúnio não teve respostas a não ser um agourento silêncio do poço. Assim passou-se dois meses e mesmo quando as trevas da noite se adensavam João passou a depositar e depositar. Passou-se então quatro meses, cinco e seis até que numa noite sob a lua cheia João parecia exasperado com aquele lugar. Depositou suas moedas até a última o fundo tocar e murmurou e depois praguejou contra o infortúnio do poço que tragou por gerações passado adentro fortunas. Tomado então por uma perplexidade mesclada a fúria inclinou- se sob a abertura na esperança de que o fulgor do luar lhe descortinasse algo. Ouviu água, mas apenas de forma pardacenta consegui contemplar até que o muro que lhe escorava cedeu até o fundo a seu derradeiro fim. Seu corpo estava estropiado e contorcido por fissuras e fraturas expostas quando despertou a fintar o céu estrelado e o luar pela 76