Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 51

LiteraLivre nº 3 Eu caminho... Sandra Werneck Manaus/Amazonas Eu caminho. Tu caminhas. Nós caminhamos. Cada qual no seu pedaço de rua. Cada qual em seu mundo. Em sentidos contrários. Passos rápidos. Sem acompanhar o tempo. Tempo calmo, de sol e calor. Ar de cheiros desconhecidos. Pensando na vida, que a morte é certa. De um tranco, tudo vem abaixo. Troncho. Sacolas caindo dos braços. Se espatifam ao chão. Ovos rolam. Ovos se quebram. Sorriso amarelo. Desculpas dadas. Desculpas aceitas. Um pouco cansada. Suspiro sôfrego de dessatisfação. É cego. Cego não é. Olhos lindos de tudo ver. Azuis-piscina. Podia nadar dentro deles. Mareada. Paciência, o homem distraído. Tronco robusto, bem torneado, trabalho de Deus. Quem sabe é um deus desencrespado. Disfarçado. Não é. É de carne. E osso. E sorri na tarde preguiçosa. E avança as mãos inseguras tentando juntar o que não havia se perdido. Nem quebrado. Batatas, queijo, manteiga. O mal já está feito. Nossas mãos se encontram. E os olhos. E as bocas, que ficam abertas a engolir saliva. O vento quente que vem de baixo, enreda quase como uma teia. Desenervado. E a gema amarela cresce na calçada, parecendo um sol a iluminar. Cresce a conversa. Cresce a fome no ventre. Cresce a fome nos olhos. Vou fazer uma omelete. Preciso dos ovos. Novos. Eu caminho. Tu caminhas. Nós caminhamos. Cada qual no seu pedaço de rua. Cada qual em seu mundo. Passos rápidos. Sem acompanhar o tempo. Sou convidada a entrar em sua porta. Em sua 45