LiteraLivre nº 3
tanto cabelo? O que Seu Alípio estava aprontando na sua cabeça?!
Espavorido, nem conseguia se mover. E o zunido da tesoura não
cessava...
Atordoado, Aloísio fechou os olhos e, silenciosamente, clamava por
todos os santos para que aquilo acabasse logo. De repente, Seu Alípio
parou de assobiar e descansou a tesoura sobre o aparador. E com a
mesma rapidez de ação, pegou um instrumento que parecia um boticão
ampliado, tombou fortemente a cabeça de Aloísio para frente e começou
a passar aquela ferramenta da nuca para o alto da cabeça. E como doía!
Conforme subia, aquele aparelho ia puxando de maneira ríspida os fios
de cabelo, roçando asperamente a pele da cabeça. Uma sensação
horrorosa. E Seu Alípio voltou a assobiar...
Aloísio nem ousava abrir os olhos. Tinha receio de olhar o chão e
constatar que todo o seu cabelo estava ali. Só queria que aquilo
acabasse logo...
E Seu Alípio parou de assobiar. Guardou aquela estrovenga no
aparador, junto com a tesoura, e começou a retirar a toalha.
Aloísio não queria saber de álcool, de talco ou de água velva. Nem
aceitou a oferta de Seu Alípio para olhar-se no espelho, e nem se
atreveu a passar a mão pela cabeça porque não queria constatar o que
já sabia. Não queria saber de nada. Queria ir para casa, e lá, sozinho,
olhar o que havia acontecido com os seus cabelos.
Pegou o troco dado pelo barbeiro, e foi rapidamente rumo à porta.
Não precisou chegar a casa para certificar-se do ocorrido. O vento que
lhe batia na nuca, o sol que lhe ardia na cabeça e as orelhas
proeminentes esculpidas na sua própria sombra refletida na calçada
33