Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 39

LiteraLivre nº 3 tanto cabelo? O que Seu Alípio estava aprontando na sua cabeça?! Espavorido, nem conseguia se mover. E o zunido da tesoura não cessava... Atordoado, Aloísio fechou os olhos e, silenciosamente, clamava por todos os santos para que aquilo acabasse logo. De repente, Seu Alípio parou de assobiar e descansou a tesoura sobre o aparador. E com a mesma rapidez de ação, pegou um instrumento que parecia um boticão ampliado, tombou fortemente a cabeça de Aloísio para frente e começou a passar aquela ferramenta da nuca para o alto da cabeça. E como doía! Conforme subia, aquele aparelho ia puxando de maneira ríspida os fios de cabelo, roçando asperamente a pele da cabeça. Uma sensação horrorosa. E Seu Alípio voltou a assobiar... Aloísio nem ousava abrir os olhos. Tinha receio de olhar o chão e constatar que todo o seu cabelo estava ali. Só queria que aquilo acabasse logo... E Seu Alípio parou de assobiar. Guardou aquela estrovenga no aparador, junto com a tesoura, e começou a retirar a toalha. Aloísio não queria saber de álcool, de talco ou de água velva. Nem aceitou a oferta de Seu Alípio para olhar-se no espelho, e nem se atreveu a passar a mão pela cabeça porque não queria constatar o que já sabia. Não queria saber de nada. Queria ir para casa, e lá, sozinho, olhar o que havia acontecido com os seus cabelos. Pegou o troco dado pelo barbeiro, e foi rapidamente rumo à porta. Não precisou chegar a casa para certificar-se do ocorrido. O vento que lhe batia na nuca, o sol que lhe ardia na cabeça e as orelhas proeminentes esculpidas na sua própria sombra refletida na calçada 33