LiteraLivre nº 3
tempo na falsa procura do remédio e não chamaria a ambulância, daria
tempo ao tempo até a velha morrer então fecharia a porta e iria pro seu
quarto, ninguém a tinha visto entrar, os outros só chegariam à noite
quando nada mais poderia ser feito, ela então não precisaria ir embora
do sobrado e a vida seguiria normal na medida do possível. Já se
levantando pra ir embora Júlia recua, agora se lembrando das poucas
vezes que viu a velha sorrir, quando recebia o aluguel ou quando
devorava seus quindins, a moça que nunca desejara a morte de
ninguém agora não mais se reconhecia, deixara o desespero dominar
seus instintos. Ela rapidamente pega o telefone e chama a ambulância
torcendo pra que essa não demore chegar. Temendo já ser tarde.
_ Toma seu remédio, se acalme, a ambulância já vem, vai ficar tudo
bem.
Vai dizendo enquanto massageia as frias mãos da senhoria que parece
agora recobrar os sentidos, de certo não morreria, aqueles minutos que
se passaram ali pra Júlia pareciam ter sido anos e enquanto abraçava a
pobre senhora uma estranha paz reinava naquele quarto se fazendo
ouvir apenas o som de sirene ao longe.
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