Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 133

LiteraLivre nº 3 tempo na falsa procura do remédio e não chamaria a ambulância, daria tempo ao tempo até a velha morrer então fecharia a porta e iria pro seu quarto, ninguém a tinha visto entrar, os outros só chegariam à noite quando nada mais poderia ser feito, ela então não precisaria ir embora do sobrado e a vida seguiria normal na medida do possível. Já se levantando pra ir embora Júlia recua, agora se lembrando das poucas vezes que viu a velha sorrir, quando recebia o aluguel ou quando devorava seus quindins, a moça que nunca desejara a morte de ninguém agora não mais se reconhecia, deixara o desespero dominar seus instintos. Ela rapidamente pega o telefone e chama a ambulância torcendo pra que essa não demore chegar. Temendo já ser tarde. _ Toma seu remédio, se acalme, a ambulância já vem, vai ficar tudo bem. Vai dizendo enquanto massageia as frias mãos da senhoria que parece agora recobrar os sentidos, de certo não morreria, aqueles minutos que se passaram ali pra Júlia pareciam ter sido anos e enquanto abraçava a pobre senhora uma estranha paz reinava naquele quarto se fazendo ouvir apenas o som de sirene ao longe. [email protected] 127