LiteraLivre nº 3
pensara embarcar, para Paris, como um "connaîsseur", me surpreendeu
com novas torturas: check-in eletrônico, drop-off de calçada, GPS,
aplicativo para acompanhar informações de voo pelo celular.
O pobre viajante agora precisa ler uma lista telefônica de instruções
antes de descobrir em dez segundos que com ele a tecnologia empaca e
o direciona ao balcão, onde um profissional educado não coloca em
palavras o eloquente olhar: "por que cargas d'água esse sujeito não fez
tudo online?"
Segui pela vida, sofrendo entre senhas e terminais, simplesmente
porque minha paixão por viagens é maior, muito maior que meu pânico
de aeroporto até que...
- Mamãe (de 87 anos) vai junto com você, levando duas malas de 32
quilos, mas não se preocupe que eu já pedi cadeira para ela.
- Mãe? Cadeira?
- Claro, irmão, cadeira de rodas, para idosos, depois da Imigração.
Chorei noite seguidas. Às escondidas. No escurinho do quarto. Meus
pesadelos recorrentes versavam sobre a impossibilidade de atravessar
os longos corredores de aeroportos com mãe, cadeira de rodas, malas.
Como eu iria dar conta? Dessa vez emagreci antes do vôo.
A confusão começou já em Guarulhos, em reforma, sem sinalização,
e o taxista folgado que desconhecia o caminho:
- O senhor desce lá e pergunta, faz o favor, que eu não posso sair do
táxi.
Lá fui eu, atravessei o estacionamento, cruzei duas pistas
congestionadas e falei ao atendente do balcão de informações:
- Minha mãe tem 87 anos, está lá no estacionamento, fiz o pedido de
uma cadeira de rodas para a Delta Airlines, como faço para ...
O risonho rapaz nem me deixou terminar a frase. Chamou alguém
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