Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 4

Rev . Medicina Desportiva informa , 2017 , 8 ( 4 ), p . 2

Entrevista

José Luís Massagista do F C Porto
Entrou no F C Porto em 1953 !… Ainda se lembra ? Como chegou ao clube ?
Sim , lembro-me . Um funcionário do clube foi para a tropa e eu entrei a substituí-lo para transportar num triciclo os equipamentos dos jogadores do Campo da Rua da Constituição para a lavandaria no Estádio das Antas .
Nessa altura o massagista e a massagem eram elementos determinantes no tratamento do jogador …
Antigamente era o que havia !... além disso tínhamos o “ forno ” com lâmpadas de carvão e um aparelho de ultrassons , por isso a massagem era sempre utilizada e fundamental .
Mas , entretanto , o tratamento do jogador mudou muito . O que gostaria de realçar ?
( Sorrisos … e mãos na cara ) Mudou tudo !... e para melhor . Mas já naquela época tínhamos um departamento moderno onde já se incluía , no antigo estádio das Antas , um aparelho de Rx e um dentista com todo o material necessário .
A TAC e a RMN são recentes . Fazer o diagnóstico de uma lesão há 30-40 anos era certamente muito difícil , não era ?
Com o Dr . Sousa Nunes utilizávamos muito o Rx e as fraturas eram logo diagnosticadas e tratadas no nosso
Departamento . Hoje em dia é muito mais fácil diagnosticar as lesões !
Os suplementos alimentares acompanham o atleta atual . Como era antigamente , o que tomavam mais ?
Sim , mas na altura , e em especial no ciclismo ( fiz 15 voltas a Portugal e três voltas à Espanha ), eu já era o responsável pela alimentação , fornecia-lhes grandes quantidades de massa com um bife de 300 gramas . Durante as corridas preparava sacos de fruta cristalizada , bem como a fruta da época . Preparava ainda as bebidas com algumas vitaminas já existentes na época , em particular a vitamina C .
P . f ., conte uma ou duas histórias engraçadas ocorridas ao longo desta já longa carreira .
Uma delas passou-se com o Juary ! Tinha como hábito , sempre que me cumprimentava diariamente , dar-me um beijo na orelha … Um dia , e porque já estava à espera desse beijo , coloquei Finalgon ( que arde muito ) na minha orelha , ele caiu que nem um patinho , ficou com os lábios a arder e até hoje nunca mais brincou dessa forma ( largos sorrisos ).
Um dia , numa competição internacional , o José Mourinho pediu-me para dar o grito no balneário antes de entrarmos em campo . Estávamos em Lens , mas naquele dia esqueci- -me do nome da localidade onde estávamos e disse : “ estamos aqui em Paris de França …” Claro que isto provocou grandes gargalhadas e depois o Deco perguntou-me :
" Então , Zé ...? Em Paris de França ?" A minha resposta foi : “ Que queres ? Apagaram-se-me as velas …”. A boa disposição foi geral , os jogadores e o staff entraram em campo a rir e , no final , ganhámos mais uma eliminatória num trajeto que só parou em Sevilha com a conquista da Taça UEFA .
Como conciliou a vida profissional com a vida familiar ?
Foi difícil ! A minha mulher é que sofreu e foi a vítima ! Eu passava muitos períodos fora de casa , por vezes 15 dias seguidos , sobretudo nas corridas de ciclismo . Mas mesmo no futebol tive ocupação diária , incluindo os fins-de-semana para prestar apoio nos jogos de diversas modalidades . Tinha pouco tempo para a família . Às vezes , durante as férias , a minha mulher ia sozinha para o campismo com os meus filhos . Apesar de tudo isso , consegui dar-lhes educação e formá- -los a todos , agora estão independentes e , felizmente , bem na vida .
Está há 64 anos no clube e com 83 anos de idade . Quantos anos mais pensa lá continuar ?
Não sei , mas espero andar por cá enquanto mantiver esta mentalidade , me sentir útil e tiver prazer em servir este grande clube , que é a minha família , e enquanto Deus me der saúde .
2 Setembro 2017 www . revdesportiva . pt