Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 27

Discussão e Conclusão A literatura atual, mas também a nossa experiência, têm demons- trado efeitos positivos das injeções IA na abordagem da OA do joelho. A perceção de que este benefício está relacionado com o real efeito modificador da doença ou também dependente de um efeito placebo já não se encontra tão bem esclarecida. Para além deste facto, não sabemos até ao momento quando e quais os fármacos / produtos biológicos a usar, CS, AH ou PRP. O mecanismo subjacente à eficácia anti-inflamató- ria dos CS em ambiente intra-articu- lar é multifactorial, no entanto neste contexto específico está relacionado com o bloqueio da opsonização dos antigénios, adesão leucocitária e diapedese das citocinas do endoté- lio capilar. Ao mesmo tempo, este potente anti-inflamatório diminui os efeitos da IL-1, reduz a libertação de leucotrienos e de prostaglandi- nas e inibe a ação das MMPs e da síntese de imunoglobulinas. 8 Os CS habitualmente mais utilizados na terapêutica intra-articular são a triamcinolona, a betametasona e a metilprednisolona, habitualmente considerados de esteroides de ação média a longa. 9 A duração de ação do ponto de vista intra-articular é controversa e pouco taxativa, exis- tindo estudos que apontam efeitos entre 1 a 24 semanas. No que concerne ao AH, este dis- positivo médico é um glucosamino- glicano de alto peso molecular cons- tituído por unidades repetidas de N-acetilglucosamina e ácido gluco- rónico. 10 Encontra-se habitualmente presente na camada mais superficial da cartilagem humana e constitui o principal componente do líquido sinovial. 11 É produzido pelos sinovió- citos do tipo B, condrócitos e fibroblas- tos. 12 O peso molecular médio do AH do líquido sinovial de um indivíduo normal varia entre os 5 e os 7 × 10 6 Da. Num joelho com OA o peso molecu- lar do HA no líquido sino- vial encontra- -se diminuído na ordem dos 33-50%. 12 O pressuposto teórico da injeção intra- -articular de AH ou viscossuple- mentação defende que esta interven- ção melhora a elasticidade da cartilagem, otimiza a vis- cosidade do líquido sino- vial e conse- quentemente obtém ganhos em termos de lubri- ficação e capacidade de absorção de choque/carga. 8 No entanto, até à data, não existem dados franca- mente conclusivos e evidentes do seu mecanismo de ação. Poderá estar também envolvido na atenua- ção de vias inflamatórias, dimi- nuindo fenómenos de fagocitose, produção de prostaglandinas e fibronectina. 12 O PRP é um produto biológico com interesse na medicina regenerativa pelo seu potencial em modular a evo- lução das lesões musculoesqueléticas e osteoarticulares. O PRP não é mais que plasma autólogo com uma con- centração significativamente mais elevada de plaquetas e fatores de crescimento associados em relação ao plasma fisiológico. A concentração de plaquetas numa solução de PRP habitualmente corresponde a 4 a 7 vezes a concentração base do sangue periférico do indivíduo, sendo que alguns autores defendem que con- centrações inferiores ou superiores a este intervalo são pouco efetivas ou mesmo deletérias, inibindo o processo de regeneração. 13 Classi- camente o PRP é classificado em quatro categorias, de acordo com o seu conteúdo em leucócitos e fibrina, nomeadamente PRP puro ou pobre em leucócitos, PRP rico em leucóci- tos, PRP puro com fibrina e PRP rico em leucócitos e fibrina. 14 Os factores de crescimento habi- tualmente presentes numa solução de PRP incluem IGD-1, PDGF e TGF-b, entre outras moléculas de interesse anabólico e anti-inflamatório. 15 Estes fatores atuam a nível dos condrócitos, promovendo a síntese da matriz extracelular da cartila- gem, aumentando o crescimento e migração celular nas áreas de lesão e facilitando a transcrição de proteí- nas. O IGF-1 tem efeitos anabólicos a nível da articulação, estimulando a formação de colagénio do tipo II, pro- teoglicanos e outros componentes da matriz extracelular, com franco benefício do ponto de vista fisioló- gico, pela sua ação na promoção da adesão entre condrócitos e inibi- ção dos fenómenos de proteólise a nível do microambiente da matriz extracelular. Por sua vez, o PDGF e o TGF-b estimulam a produção de condrócitos, sendo que este último fator tem demonstrado efeito na Revista de Medicina Desportiva informa Setembro 2017 · 25