Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 22
Programa terapêutico – O programa
decorre no âmbito do controlo da
dor e inflamação, da retoma de
amplitudes articulares, na retoma
dos parâmetros cinéticos de força e
proprioceção, na introdução e con-
trolo do exercício físico e na preven-
ção da recidiva. 5-10
2.1 – Terapêutica antiálgica e anti-
-inflamatória, utilizando o pro-
tocolo RICE (repouso, crioterapia,
compressão, elevação), os agentes
farmacológicos (analgésicos e anti-
-inflamatórios tópicos ou sistémicos
ou a infiltração local), os agentes
físicos (iontoferese, ultrassom, tens,
laser, magnetoterapia…) e os agentes
cinesiológicos (massagem manual).
Verificamos baixa evidência para
todos estes agentes particularmente
no âmbito dos anti-inflamatórios e
agentes de eletroterapia.
2.2 – Retoma de amplitudes, força
e proprioceção – Com a introdução
progressiva das técnicas cinesiológi-
cas de retoma de mobilidade articu-
lar, no respeito pela dor espontânea
e proteção dos elementos capsuloli-
gamentares. Utilizam-se técnicas de
mobilização articular passiva, mobi-
lização articular ativa e técnicas de
facilitação neuromuscular proprio-
cetivas. A retoma da força muscular
compreende a utilização de trabalho
muscular analítico (particularmente
dos músculos fibulares e tibiais
laterais), nomeadamente estático,
dinâmico concêntrico e dinâmico
excêntrico e de trabalho muscular
global. A retoma da estabilidade
propriocetiva utiliza a estimulação
propriocetiva em cadeia cinética
aberta e posteriormente em cadeia
cinética fechada, com trabalho de
posição e de movimento, com e sem
controlo exterocetivo / sensorial. A
reeducação postural (postura, equi-
líbrio, coordenação e proprioceção)
é também essencial na retoma de
performance competitiva e decisivo
na prevenção da recidiva. Tratam-se
de intervenções cinesiológicas com
evidência crescente e indicadores de
qualidade terapêutica.
3 – Controlo de qualidade / retoma
desportiva e prognóstico – Utiliza
diferentes indicadores, nomeada-
mente sintomas e sinais (dor, edema,
laxidão), a mobilidade articular
(particularmente a dorsiflexão), a
força muscular manual ou isociné-
tica (fibulares laterais, tibial posterior,
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a estabilidade funcional (testes de
desempenho propriocetivo), o desem-
penho postural (posturografia dinâ-
mica), os testes de autoperceção (de
estabilidade, de retoma competitiva),
o desempenho específico de elemen-
tos cinéticos e a performance des-
portiva. A prevenção lesional funda-
menta-se na estimulação da atividade
propriocetiva e neuromuscular e no
fortalecimento analítico dos músculos
fibulares laterais. Existe evidência que
demonstra a eficácia destes progra-
mas, em diferentes grupos etários.
4 – Sequelas lesionais – As sequelas
ocorrem em 5-33 % dos casos (inde-
pendentemente do tratamento inicial),
verificando-se que 34% apresentam
novo episódio de entorse e que 15-64%
referem não ter recuperado total-
mente após um ano. A dor crónica
de diversas etiologias, a instabilidade
articular, a deterioração da confiança,
a perda de performance desportiva e
a osteoartrose precoce são os aspetos
clínicos mais referidos. 11-13
5 – Falsas entorses, com dor e
instabilidade mantidas – São refe-
ridos um conjunto de problemas
clínicos muitas vezes simulando ou
que sendo inicialmente interpreta-
dos com entroses comprometem a
retoma funcional. Os mais frequen-
tes são a lesão isolado da sindes-
mose tibiofibular, a entorse lateral
de Chopart (médio-társico), a luxa-
ção aguda dos músculos fibulares
laterais, a fratura do maléolo lateral
/ medial, a fratura da base do V
meta, a lesão osteocondral do tálus e
as sinostoses do tarso / barras sinos-
tósicas na criança e adolescente.
6 – As evidências na reabilitação do
tornozelo – O imobilizar potencia
a cicatrização anatómica e a esta-
bilidade estática e não imobilizar
acrescenta facilidade de retoma
funcional, mas acrescenta risco de
complicações. O interesse do pro-
grama de reabilitação sistematizado
e organizado, sustentado no diag-
nóstico eti opatogénico.
A finalizar refira-se a baixa evidên-
cia terapêutica dos anti-inflamató-
rios, particularmente na fase aguda.
No entanto, a sua evidência cresce
como elemento importante no con-
trolo e prevenção da inibição mus-
cular artrogénica. As componentes
cinéticas neuromotoras (força, pro-
prioceção e postura) são decisivas no
processo de retoma e na prevenção
lesional. De salientar ainda a baixa
evidência dos agentes físicos (parti-
cularmente eletroterapia), particu-
larmente acrescida numa utilização
isolada de cada agente, não sistema-
tizada no âmbito de um programa
compreensivo fundamentado no
diagnóstico etiopatogénico 14,15 .
Bibliografia
Restante Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
Tema 4: O joelho
Moderador: Dr. Alcindo Silva
Hospital da Arrábida – Vila Nova de Gaia
A lesão do menisco: um novo
paradigma
Dr. Ricardo Santos Pereira 1 ,
Prof. Doutor José Carlos
Noronha 2
1
Serviço de Ortopedia – Centro
Hospitalar de Vila Nova Gaia-
Espinho, EPE; 2 FPF – Unidade e
Saúde e Rendimento – Porto
Os meniscos têm merecido cada vez
mais respeito, pois a sua exérese gera
inevitavelmente lesões degenerativas.
Cada vez mais se tenta preservá-los:
suturando-os ou evitando-se fazer
a sua exérese. São estruturas muito
importantes na estabilização articu-
lar e distribuição de carga, sendo o
menisco externo mais importante,
porque permite a congruência articu-
lar num compartimento femorotibial
que é incongruente (côncavo-con-
vexo). Ainda assim, a lesão do menisco
interno é cerca de três vezes mais
frequente – a menor mobilidade deste
menisco justifica a maior incidência
de rotura. O correto diagnóstico da
lesão meniscal passa pela colheita cui-
dadosa da história clínica (com espe-
cial atenção ao mecanismo lesional,
localização dos sintomas, bloqueios,
falhas e limitações da mobilidade) e
realização do exame físico e de exa-
mes complementares de diagnóstico,
nomeadamente a RMN.
Somente as lesões meniscais
instáveis podem justificar menis-
cectomia parcial e apenas se as
queixas coincidirem com o exame
clínico e com a imagem da RMN. Se
possível, deverá ser privilegiada a
sutura meniscal à meniscectomia.
As indicações para sutura meniscal
são as roturas recentes, em doentes