Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 18

que cobrem a lesão) ou profunda (atravessando a lesão) agride com a agulha e promove a estimulação da secreção de peptídeos opioides endógenos (encefalinas...), gate- -control e tem ação sobre sistema nervoso autónomo (curto prazo – bom; longo prazo: – razoável). A eletrólise percutânea intratissular (EPI), que consiste na aplicação de corrente galvânica através de uma agulha de acupunctura – elétrodo negativo, cátodo – sob controle eco- gráfico, sobre a região degenerada produz uma reação eletroquímica, desencadeando processo inflamató- rio e necrose celular. Esta situação acarreta fagocitose e reparação tissular. Dá origem a um processo inflamatório (72 horas), que permite regeneração tissular, depois à fase proliferativa (8.º dia), aumentando a proliferação celular, fibroblástica, à fase de sintetização (14.º dia), incrementando depósito de matriz extracelular e, finalmente, à fase de remodelação e modulação (21.º dia). Outro tratamento é a ozonoterapia, que utiliza uma mistura gasosa de 95% O2 e 5% ozono. Aumenta a oxigenação celular e a respiração tissular, potencia as capacidades metabólicas, tem efeito anti-infla- matório no sistema musculoesque- lético, incrementa a vasodilatação e a circulação sanguínea, liberta fatores de crescimento, melhora a capacidade antioxidante e a res- posta imunitária, é antisséptica e modeladora da via nocicetiva (curto prazo – bom; longo prazo – bom). Os dispositivos médicos de colagé- nio (proteína mais abundante no organismo – 5-6% do peso corporal) estão a ganhar grande números de adeptos. Confere boa capacidade regenerativa (curto prazo – razoá- vel; longo prazo – bom). Sangue total autólogo reúne concentração de plaquetas – 225.000 por µl – 4% de plaquetas (fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) que implementa regeneração tendinosa. Bom para controle nociceptivo, edema e mecanismos celulares. Estimula proliferação fibroblástica, osteoblástica e condrocítica, assim como vascularização e metabolismo loco-regional (curto prazo – mau; longo prazo – razoável) O plasma rico em plaquetas (PRP – 1.400.00 por µl – 80% de plaquetas) estimula 16 Setembro 2017 www.revdesportiva.pt a proliferação de células mesen- quimatosas, síntese de colagénio e angiogénese, fulcrais para reparação tissular tendinosa. Do sangue total autólogo o concentrado plaquetário contém variadíssimos fatores de crescimento (curto prazo – bom; longo prazo – bom). A solução de proteínas autólogas, os agentes esclerosantes, como o polidocanol, as metaloproteinases da matriz, que são enzimas que degradam componentes da matriz tendinosa, são outras atitudes terapêuticas a considerar . Faltam respostas a certas perguntas básicas, mas de acordo com experiências efetuadas, contando também com a do pró- prio, foi possível demonstrar que as diferentes modalidades terapêuticas abordadas promovem uma melhoria significativa no quadro clínico das tendinopatias. Muitas dúvidas ainda vão persistindo especialmente face às soluções de proteínas autólogas (aprotinina e proloterapia), as quais, certamente, a curto prazo ficarão melhor esclarecidas. Tendinopatias do joelho: quando operar? Prof. Doutor António Sousa Hospital de S. João – Porto No joelho existem quatro estru- turas tendinosas, cujos processos inflamatórios podem resultar em limitação da prática desportiva: ten- dão rotuliano (TR), banda ileotibial (SBIT), tendão quadricipital (TQ) e tendões da pata de ganso (PG). Des- tas, a inflamação que atinge o TR (jumpe’rs knee) é a de maior impor- tância pela elevada prevalência e limitação funcional nas modali- dades com salto. Segundo Ferreti (2002) apenas 10% dos doentes beneficiam de tratamento cirúrgico. A SBIT beneficia raramente de trata- mento cirúrgico, após nove meses de falência do conservador (Mar- tens, 1989). A TQ tem maioritaria- mente tratamento conservador, com indicações muito raras para excisão do tecido degenerativo e eventuais calcificações (Ferreti 1985). Os processos inflamatórios da PG têm ainda indicação mais rara para bur- sectomia (Abeles, 1983). São indi- cações para cirurgia do TR: rotura, falência do tratamento conservador (seis meses), sendo importantes a demanda funcional do atleta e a motivação. Encontramos procedi- mentos abertos e artroscópicos. Os gestos mais comuns descritos na literatura são a fenestração do ten- dão, a tenotomia, o desbridamento de tecidos degenerativos e também gestos ósseos (osteoplastia), como as microfraturas, a excisão da face não articular do polo inferior da rótula ou a resseção deste. Do ponto de vista teórico, estas publicações sugerem taxas de sucesso entre 60-90% nas vias aberta e artroscó- pica, resultados globais ligeiramente melhores na via artroscópica, com retorno mais rápido e menor mor- bilidade, complicações muito raras, melhores resultados nos gestos ósseos, na mobilização precoce, na excisão da neovascularização e não encerramento do peritendão. Contudo, os estudos de revisão não confirmam alguns destes pressu- postos. Coleman 2000, num estudo retrospetivo não encontra diferença estatística entre a tenotomia por via aberta ou artroscópica, com taxas de sucesso de 81 e 96%, respetiva- mente, e retorno ao nível de 50% em ambas. Cucurulo, em 2009, num estudo também retrospetivo e multicêntrico, não encontrou diferenças entre a técnica aberta e a artroscópica, com tenotomia e/ou osteplastia. Marchegiani, em 2013, publicou uma revisão sistemática (21 estudos com follow-up médio de 32,5 meses) e também não observou diferenças entre as técnicas aberta ou artroscópica (taxa de sucesso de 85 e 87% e retorno ao nível 79 e 77%, respetivamente). Casey, em 2015, numa revisão de estudos publica- dos entre 2000 e 2014, encontrou as taxas de sucesso de 81 e 91%, retorno ao nível competitivo de 77 e 81% e tempo de recuperação de 5,6 e 5 meses, respetivamente, mas sem diferenças com significado estatís- tico. Brockmeyer, em 2017, numa revisão sistemática entre 2000 e 2015, encontrou taxas de sucesso de 87 e 91%, retorno ao nível de 78 e 82% e tempo de recuperação de 8,3 e 3,9 meses, respetivamente, e