Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 16

permanecendo “ refém ” de um exame auxiliar de diagnóstico ( e aqueles atletas que apresentam alterações estruturais nos exames complementares e não apresentam dor ou limitação funcional ?). Tal como noutras áreas da Medicina , a histopatologia destas “ lesões ” não é completamente compreendida , sendo a presença de células inflamatórias , respeitante ao tipo e quantidade em cada estadio da “ lesão ”, um dos pontos de maior discórdia , razão pela qual nos parece mais sensato usar o termo – tendinopatia para designar estas lesões , ao contrário de tendinite ou tendinose . Uma palavra para as tendinopatias reativas ( muitas vezes apresentadas na forma de tenossinovite ) que podem ocorrer maioritariamente por traumatismo direto e / ou aumento agudo de carga de treino . Relativamente aos fatores de risco ( e como para a grande maioria das lesões músculo-esqueléticas ), podemos referir que não há apenas um fator a contribuir para o aparecimento das queixas , mas sim um conjunto , sendo que a metodologia inadequada de treino , desequilíbrios musculares , défices de amplitudes articulares , défices de controlo neuromotor , alterações da estabilidade lombopélvica , alterações posturais e a idade nos parecem os mais relevantes . A apresentação clínica da patologia tendinosa segue , na grande maioria dos casos , um padrão contínuo , em que inicialmente a dor peri-articular aparece após a atividade física , ou na manhã seguinte ao esforço , para posteriormente aparecer durante o exercício , com carácter cada vez mais limitativo para a prática do desporto em questão . Objetivamente é importante observar o atleta como um todo e centrado nas suas alterações estáticas e dinâmicas , podendo apresentar-se localmente com dor na palpação do corpo do tendão , na sua inserção no osso e / ou na sua junção miotendinosa . Quanto ao tratamento
( e baseado nas premissas prévias ) é a identificação do ( s ) evento ( s ) desencadeadores / mecanismo lesional ou estruturas alteradas a montante e / ou a jusante do joelho ; o respeitar a biologia dos tecidos ; o estabelecer programas individualizados de reabilitação com progressões baseadas em critérios ; a boa periodização das cargas ; o correto programa de treino muscular ( com ênfase no trabalho excêntrico ); o “ ouvir ” o corpo do atleta , tratando a “ pessoa ” como um todo e não o “ exame ” são todos aspetos fundamentais para a diminuição da sintomatologia e resolução do quadro clínico . Haverá então lugar para o tratamento cirúrgico nas tendinopatias ? Pensamos que ( e apesar de não haver consenso na literatura sobre quando e como operar ) um “ bom ” tratamento reabilitador respeitando os critérios de progressão e de reintegração em treino nos dará um melhor resultado final do que o tratamento cirúrgico , não tendo a cirurgia “ lugar ” no tratamento destas patologias , mesmo num jogador profissional de futebol . Concluindo : a dor próxima ao tendão é muito comum no desporto , não sendo uma patologia fácil de tratar , pela dificuldade em “ perceber ” as estruturas primariamente afetadas . Para isso é fundamental visualizar o atleta como um todo , tratando a causa da sua dor ( mais do que a consequência ) com um programa reabilitador multidisciplinar individualizado que corretamente aplicado evitará uma cirurgia despropositada na grande maioria dos casos .
Tratamentos : quais as evidências de eficácia ?
Dr . Carlos Rio Clínica Dr . Carlos Rio – Braga e Viana do Castelo
As lesões tendinosas agudas e crónicas degenerativas são situações clínicas frequentes , especialmente em atletas . A tendinopatia degenerativa , que muitas vezes precede a rotura tendinosa , é considerada por muitos autores como uma falência do processo regenerativo e caracteriza-se por espessamento , hipervascularização , degenerescência mucoide , nódulos ectópicos de estrutura óssea ou cartilagínea e desorganização da sua matriz . Em termos terapêuticos é comum iniciar-se pela administração de anti-inflamatórios não esteroides , que apresentam pouca evidência na influência histológica e bioquímica na patogénese da tendinopatia , inibindo até o seu processo regenerativo ( curto prazo – razoável ; longo prazo – mau ), ou pela corticoterapia , a qual apenas pode ajudar no controle da dor e do edema na fase inflamatória , sendo de resto pouco evidente ( curto prazo – bom ; longo prazo – mau ). A medicina física e de reabilitação tem uma ação inquestionável ( crioterapia , calor superficial ou profundo , eletroterapia de baixa e média frequência , laserterapia , vibroterapia , massagem e técnicas para ganho de amplitudes , fortalecimento muscular , reeducação propriocetiva ). As ondas de choque pertencem ao grupo da vibroterapia , implementando uma onda de choque com características próprias ( impulso com pico ascendente rápido seguido de onda refratária ), com efeitos neurais , desintegração e neovascularização . Podem ser focais ( eletromagnéticas , eletrohidráulicas e piezoelétricas ) e radiais , de indução pneumática ( curto prazo – bom ; longo prazo – bom ). A mesoterapia é uma técnica médica que consiste na aplicação manual ou instrumental ( pistolet ), com agulhas de 4 , 6 , 10 e 13mm e diâmetros de 4 / 10 e 3 / 10 sobre a pele ( epidérmica , intradérmica profunda ou hipodérmica ), de pequenas gotas de uma mistura de injetáveis escolhidos de acordo com as necessidades terapêuticas – lidocaína , piroxicam , tiocolquicosido , enzimas proteolíticas , produtos vitaminados ( curto prazo – bom ; longo prazo – mau ). A aplicação de sistemas transcutâneos de nitroglicerina 5 mg / dia ( glicerol trinitrato – GTN ) no ponto doloroso dá origem à formação de óxido nítrico , facilitando a proliferação fibroblástica e consequente síntese de colagénio ( curto prazo – mau ; longo prazo – razoável ). A punção seca ( dry needling ), superficial ( nos tecidos
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