Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 10

Caso clínico

Rev . Medicina Desportiva informa , 2017 , 8 ( 4 ), pp . 8 – 9

Lesão Muscular no Futebolista – A Propósito de Dois Casos Clínicos

Dr . Nuno Loureiro 1 , 4 , 5 , Dr . Diogo Gomes 2 , 5 , Dr . Carlos Sales 3 , 4 , 5 , Dr . Rui Dias 3 , 5
1
Médico Especialista em Medicina Desportiva e Medicina Física e de Reabilitação ; 2 Interno de Formação Específica de Medicina Física e de Reabilitação – Hospital de Braga ; 3 Fisioterapeuta ; 4 Clinica do Dragão Espregueira Mendes Sports Centre – FIFA Medical Centre of Excellence ; 5 Departamento Médico F C Paços Ferreira .
Introdução
A lesão muscular representa o tipo de lesão com maior incidência no futebol ( cerca de 45 % no total ), ocorrendo geralmente por mecanismo indireto 1 e afetando maioritariamente quatro músculos – bicípite femoral , reto femoral , adutor longo e gémeo interno . 1-4 Destes , o mais frequentemente afetado é o bíceps femoral 1 , 2 , 4-6 , nomeadamente a sua cabeça longa , um músculo pertencente ao grupo muscular dos isquiotibiais e com características particulares : biarticulado , duas porções ( cabeça longa e cabeça curta ), dupla inervação , predomínio de fibras musculares tipo II e com função extremamente importante na desaceleração excêntrica da extensão do joelho durante a fase de balanço da marcha / corrida . 5 , 6
As lesões musculares dos isquiotibiais terão pior prognóstico quando envolverem o bicípite femoral , 4 forem mais proximais e com mecanismo de lesão por estiramento , com determinado tipo de atingimento muscular 2 , 7 ( intratendinoso > miotendinoso > intramuscular > miofascial ) e tanto pior quanto maior o número de dias que o atleta apresente dor / desconforto na marcha com claudicação associada . 5 As lesões musculares que afetam outros músculos são raras e geralmente não causam limitação funcional relevante . 1
Apesar de muito frequentes e bastantes estudadas , alguns comportamentos da evolução desta patologia são ainda incompreendidos , onde em grande medida a individualidade de cada atleta deve ser considerada . Dos múltiplos fatores que contribuem para o seu aparecimento ( fatores de risco ) destaca-se a metodologia inadequada de treino , a lesão muscular prévia , a idade e os desequilíbrios musculares relevantes . 3 , 5 , 6 , 8
Relativamente à classificação deste tipo de lesões , de referir que o modelo convencional ( Grau I , Grau II e Grau III ) nos parece desatualizado . 7 , 9 A que nos parece ser mais completa ( sem necessariamente o ser ) e que nos consegue dar mais alguns parâmetros que ajudam no prognóstico é a classificação de Pollock et al ( British Athletics Muscle Injury Classification ), a qual classifica as lesões musculares baseado em achados de ressonância magnética e de acordo com o tamanho e localização da lesão dentro do músculo ( intratendinoso , miotendinoso , intramuscular e miofascial ). 2 , 7
Quanto à sua forma de tratamento , deve seguir-se um padrão individualizado , respeitando o processo de cicatrização e as suas 3 fases ( inflamatória , proliferativa e maturação ), devendo a progressão e a integração do atleta em treino / jogo ser baseada em critérios objetivos ( clínicos , imagiológicos , funcionais e com uma boa gestão das cargas físicas pré-treino / treino ). 4 , 5 , 8 Apresentamos de seguida dois casos clínicos sobre lesões musculares , com atingimento do mesmo músculo , ambas no seu terço distal , no membro não dominante e com comportamentos clínicos distintos .
Caso clínico 1
• Atleta profissional de Futebol ( Clube 1 .ª Liga Portuguesa )
• Idade : 26 anos Figura 1
• Posição no campo : defesa lateral
• Membro dominante : esquerdo
• Antecedentes relevantes : lesão miotendinosa proximal no bicípite femoral ( cabeça longa ) direito quatro meses antes do aparecimento deste episódio .
• Anamnese : Dor de aparecimento súbito na face póstero-lateral da coxa direita durante sprint , no aquecimento de jogo oficial . Participou em 90 minutos desse jogo , apenas com ligeiro desconforto local nas acelerações máximas .
• Objetivamente ( às 48h após lesão ) com dor moderada ( EVA : 5 ) na palpação e alongamento ( EVA : 2 ) dos isquiotibiais .
• Ecografia músculo-esquelética ( às 48h após lesão ) ( fig . 1 ): Lesão muscular miofascial no 1 / 3 distal da cabeça longa do bicípite femoral , com hiato de rotura de cerca de 1,2cm , edema perilesional que se estendia longitudinalmente por cerca de 4cm e seroma associado de 2cm a dissecar a cabeça longa da curta do bicípite femoral .
Pausa desportiva : três dias .
Nota : Desde a paragem desportiva sempre disponível para treino / jojo e sem queixas álgicas musculares relevantes ( EVA : 0 ).
Caso clínico 2
• Atleta profissional de Futebol ( Clube 1 .ª Liga Portuguesa )
• Idade : 27 anos
• Posição no campo : defesa central
• Membro dominante : direito
• Antecedentes relevantes : lesão miofascial proximal no bicípite femoral ( cabeça longa ) esquerdo quatro meses antes do aparecimento deste episódio .
8 Setembro 2017 www . revdesportiva . pt