Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2017 | Page 7

adicional orientada pela respetiva instituição .
Os objetivos primários do estudo incluíram :
• Cálculo da proporção resultados falso-positivos ;
• Cálculo da sensibilidade , especificidade e valor preditivo positivo da História clínica , do Exame Físico e do ECG ;
• Determinação da prevalência de alterações cardiovasculares potencialmente associadas a aumento da morbilidade / mortalidade cardíaca .
Resultados : De agosto de 2012 a junho de 2014 , 5.258 atletas de 17 desportos intercolegiais foram avaliados . Destes , 55 % eram do sexo masculino ( idade média de 20,1 anos ), 73 % caucasianos , 16 % de afro- -americanos e 11 % outra / raça mista .
• Registou-se pelo menos um sintoma cardíaco positivo ou história familiar relevante ( AHA ) em 1.750 atletas ( 33,3 % do total );
• O Exame físico foi anormal em 108 atletas ( 2,1 %);
• Observaram-se anormalidades eletrocardiográficas ( critérios de Seattle ) em 192 atletas ( 3,7 %);
• Em treze atletas ( 0,25 %) foram identificadas alterações cardíacas graves , incluindo cardiomiopatia hipertrófica ( 1 ), comunicação interauricular com dilatação ventricular direita ( 1 ) e pré-excitação ventricular ( 11 );
• A taxa de falsos-positivos para a História foi de 33,3 %, para o Exame Físico de 2,0 %, e para o ECG de 3,4 %;
• A sensibilidade / especificidade / valor preditivo positivo foi
• para a história de 15,4 % / 66,9 % / 0,1 %,
• para o Exame Físico de 7,7 % / 98,2 % / 0,9 %
• para o ECG de 100 % / 96,6 % / 6,8 %.
Em conclusão , a avaliação eletrocardiográfica nos atletas da National Collegiate Athletic Association teve uma baixa taxa de falso-positividade e forneceu maior precisão diagnóstica , em comparação com a História e com o Exame Físico , para detetar / identificar atletas com alterações cardiovasculares potencialmente malignas .
Comentário : Têm sido vários os estudos que referiram a baixa rentabilidade da História e do Exame objetivo na tentativa de identificação de atletas e desportistas em risco aumentado de morte súbita durante a prática desportiva . Um dos primeiros trabalhos foi publicado no JAMA , em 1996 , por Barry Maron , o qual referiu , numa análise retrospetiva de 134 atletas que faleceram subitamente , que apenas se tinha suspeitado de anormalidade cardiovascular na História e no Exame objetivo em 3 % dos atletas e que , destes , menos de 1 % tinham tido um diagnóstico correto 1 . Posteriormente viria a ser publicado , em 2010 nos Ann Intern Med , outro estudo 2 em que se comparou a “ performance ” do exame médico limitado á História e Exame objetivo com a estratégia que integrava o ECG de repouso , tendo-se verificado melhoria da sensibilidade do rastreio de 45,5 % para 90,9 %, embora com um aumento muito significativo do número de falsos- -positivos ( utilizaram-se na interpretação dos ECGs os critérios da European Society of Cardiology de 2005 3 ). Dito de outra forma , a triagem sem ECG identificou menos de metade dos atletas com achados cardíacos potencialmente malignos .
A revisão dos critérios eletrocardiográficos , publicada por Abhimanyu Uberoi em 2001 4 , assim como dos critérios de Seattle 5 e o refinamento feito por Sharma et al em 2014 6 , particularmente útil para o screening de atletas afro-caribenhos , permitiu uma enorme redução da taxa de falsos-positivos , sem diminuição da capacidade de diagnóstico . Daí que Dresdner , num artigo muito recente 7 , afirme : Quando a triagem cardiovascular em atletas jovens está recomendada , as estratégias que incluem o ECG representam a melhor prática sempre que está disponível a interpretação adequada do ECG . … É necessário menos debate sobre os protocolos e mais ênfase na melhoria dos skills médicos e das infraestruturas … para levar a cabo uma gestão mais eficaz do rastreio de populações de atletas em alto risco .
O treino para o correto reconhecimento dos padrões anormais do ECG do atleta sujeito a exame médico- -desportivo é fundamental ( figura adaptada segundo as referências n .º s 4 e 5 ).
Bibliografia
1 . Maron BJ , Shirani J , Poliac LC , Mathenge R , Boberts WC , Mueller FO . Sudden death in young competitive athletes . Clinical , demographics , and pathological profiles . JAMA 1996 ; 276:199 – 204 .
2 . Baggish AL , Hutter AM Jr , Wang F , et al . Cardiovascular screening in college athletes with and without electrocardiography : a cross- -sectional study . Ann . Intern . Med . 2010 Mar 2 ; 152 ( 5 ): 269-75 .
3 . Corrado D , Pellicia A , Bjornstad HH , et al . Cardiovascular pre-participation screening of young competitive athletes for prevention of sudden death : proposal for a common European protocol . Consensus statement of the Study Group of Sport Cardiology of the Working Group of Cardiac Rehabilitation and Exercise Physiology and the Working Group of Myocardial and Pericardial Diseases of the European Society of Cardiology . Eur Heart J 2005 ; 26:516e24 .
4 . Abhimanyu Uberoi , Ricardo Stein , Marco V . Perez , James Freeman , Matthew Wheeler , Frederick Dewey , Roberto Peidro , David Hadley , Jonathan Drezner , Sanjay Sharma , Antonio Pelliccia , Domenico Corrado , Josef Niebauer , N . A . Mark Estes , Euan Ashley and Victor Froelicher . Interpretation of the Electrocardiogram of Young Athletes . Circulation . 2011 ; 124:746-757 .
5 . Electrocardiographic interpretation in athletes : the ‘ Seattle Criteria ’ J A Drezner et al . British Journal of Sports Medicine 2013 ; 47:122-124 .
6 . Nabeel Sheikh , Michael Papadakis , Saqib Ghani , Abbas Zaidi , Sabiha Gati , Paolo Emilio Adami , François Carré , Frédéric Schnell , Mathew Wilson , Paloma Avila , William McKenna and Sanjay Sharma . Comparison of Electrocardiographic Criteria for the Detection of Cardiac Abnormalities in Elite Black and White Athletes . Circulation . 2014 ; 129:1637-1649 .
7 . Jonathan A Drezner , Kimberly G Harmon , Irfan M Asif , Joseph C Marek . Why cardiovascular screening in young athletes can save lives : a critical review . Br J Sports Med . 2016 Nov ; 50 ( 22 ): 1376-1378 . Revista de Medicina Desportiva informa Janeiro 2017 · 5