Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2017 | Page 4

Rev . Medicina Desportiva informa , 2017 , 8 ( 1 ), p . 2

Entrevista

Dr . Dias Costa Médico de equipa do Futebol Clube de Arouca
O que é ser médico do Arouca , um clube “ da terra ”, fora dos grandes centros ?
Para responder a esta pergunta julgo relevante fazer uma pequena introdução . Arouca é uma vila do distrito de Aveiro , na transição do litoral para o interior de Portugal , que dista cerca de 60 Kms do Porto . Sou natural de Arouca e aqui resido e trabalho . Sempre gostei de atividades desportivas , sobretudo de futebol . Na minha juventude joguei no F . C . Arouca – o clube mais representativo da terra – durante seis épocas , desistindo apenas pela dificuldade que havia em conciliar os estudos ( frequentava o curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto ) e os treinos . Nessa altura , os acessos eram muito piores que atualmente e perdia-se muito tempo nas deslocações . Ligam-me ao clube laços de afetividade que podem explicar a postura que tenho tido para com ele . Não sendo sócio , colaboro ativamente na minha área de formação . E , não menos importante , tenho o apoio da família .
E feita esta pequena introdução , diria que ser médico do Arouca é estar disponível para ajudar o clube a atingir metas ambiciosas , porventura inesperadas e utópicas para a generalidade dos amantes do desporto-rei , exceto para o Presidente , o único que sempre acreditou que seria possível estar num ápice entre a elite do futebol português ; é colaborar com o clube de forma graciosa desde há cerca de 30 anos , independentemente da sua posição relativa no panorama regional e nacional ; é viver apaixonadamente , e por dentro , o fenómeno desportivo local ; é acompanhar a ascensão meteórica dum clube que na época 2006 / 07 disputava o
campeonato distrital de Aveiro e que , 10 anos volvidos , se qualificou para a Liga Europa ; é contornar dificuldades e encontrar sinergias ; é transmitir aos jogadores segurança e apoio fora e dentro do relvado , extensível à família , de tal forma que entrem em campo sem preocupações extra , apenas focados no jogo .
Está contente com o seu departamento médico ( pessoas e equipamento ), ou acha que falta mais alguma coisa ?
O departamento médico do Arouca tem apenas o mínimo indispensável em equipamentos , mas tem superado as dificuldades que vão surgindo porque tem profissionais competentes que trabalham com entusiasmo e paixão , em equipa , sempre cooperantes . E assim tudo se torna mais fácil , dos mínimos fazemos máximos e das dificuldades , desafios . Temos apenas um massagista , um fisioterapeuta , uma nutricionista e um ortopedista . Já tivemos um psicólogo , mas atualmente não temos . Da lesão , ao diagnóstico e ao tratamento , inclusive , cirúrgico , temos resposta célere graças à grande disponibilidade do ortopedista Dr . Alcindo Silva , o qual já é adepto do clube e está rendido à nossa particularidade . A recuperação de lesões desportivas equipara-se em tempo às de outros clubes melhor apetrechados .
O Arouca foi esta época à Liga Europa . Foi uma evolução desportiva , mas foi também uma evolução no departamento médico ?
A participação na Liga Europa implicou reajustamentos no departamento médico , quer em equipamentos , quer em medicamentos , para satisfazer os requisitos impostos pela UEFA , que através dum seu delegado inspecionou as instalações , os equipamentos e a farmácia , verificando se tudo estava em conformidade . Estes reajustamentos contribuíram para uma melhoria global das condições . O espaço físico não sofreu quaisquer alterações . Temos também um miniginásio de apoio .
O apoio ao futebolista é sempre urgente . Tem dificuldade na realização dos meios complementares de diagnóstico ?
O futebolista profissional tem de estar disponível o mais breve possível para jogar ao mais alto nível . Assim o exige o Presidente , assim o exige o treinador . Um diagnóstico correto o mais precocemente possível permite delinear uma estratégia de recuperação adequada à situação clínica e , neste aspeto , apesar de estarmos a cerca de uma hora do Porto , temos tido facilidade na realização de exames subsidiários urgentes e a colaboração do Dr . Alcindo Silva . Portanto , o obstáculo distância , ou melhor , o tempo despendido para percorrer essa distância , é atenuado pela fácil acessibilidade aos exames subsidiários , quando necessários .
E em relação à consultadoria médica ? É que são muitas curvas ( e kms ) até chegar à cidade mais próxima …
O segredo está na rede , nos contactos , nos amigos . As telecomunicações facilitam muito a consultadoria . E quando não é possível resolver por esta via , enfrentam-se as curvas e ruma-se ao Porto . Lá , além do Dr . Alcindo Silva , o Dr . Francisco Serdoura e o Prof . Dr . José Carlos Noronha , ambos com raízes arouquenses , estão sempre disponíveis para dar uma ajuda .
O que gostaria de pedir à Medicina Desportiva para os clubes de futebol ?
Eu perguntaria : o que podem os clubes de futebol dar à Medicina Desportiva para obterem retorno no desempenho dos atletas ? A resposta é óbvia : melhores condições , privilegiar e incentivar a comunicação entre todos os departamentos e apoiar a formação contínua dos profissionais , porque a força de uma organização está precisamente no elo mais fraco , é este que deve ser fortalecido .
2 Janeiro 2017 www . revdesportiva . pt