Revista de Medicina Desportiva Informa Janeiro 2017 | Page 20

Exercite Corretamente Vale a Pena Prevenir a Osteoporose

Dr . Jaime Milheiro Diretor Clínico da Clínica Médica do Exercício do Porto . Especialista em Medicina Desportiva . Especialista em Medicina Física e de Reabilitação . Board certified physician of the American Academy of Antiaging and Functional Medicine . Porto
Resultante da aprendizagem da temática do envelhecimento , onde incluímos o processo de declínio ósseo , percebemos que está associado a uma série de “ pausas ” elétricas e hormonais decorrentes do normal processo temporal . Assim , falando das múltiplas perdas associadas ao envelhecimento ósseo , foi debatido nesta feira o papel fundamental e preventivo que o exercício físico desempenha neste processo , combatendo um série de compromissos , nomeadamente da força ( mental e física ) e da perda de massa muscular ( sarcopenia ), diminuindo assim o risco de osteoporose .
Sabemos actualmente que a densidade mineral óssea diminui 1 % ao ano a partir dos 35 anos de idade , tornando-se este caminho degenerativo mais acentuado após a menopausa . Associadamente , sabemos que um terço das mulheres com mais de 50 anos sofrem de sarcopenia , com respetiva tendência osteoporótica , ou seja , o risco é evidente . Torna-se assim relevante a importância das estratégias para reduzir esse risco , nas quais deveremos incluir o reforço muscular e o equilíbrio de modo a evitar quedas e fraturas dentro destas populações ( bem como nas mais envelhecidas ), associadas a medidas de prevenção da referida sarcopenia e osteoporose .
Hoje , a evidência disponível sugere que a combinação de exercícios com carga , associados a uma situação nutricional equilibrada , têm um sentimento sinérgico na
prevenção e no tratamento da osteoporose . Uma alimentação predominantemente proteica e um repouso condizente , capaz de potenciar o papel regenerativo noturno que várias hormonas desempenham , irão promover a saúde óssea e um concomitante melhor envelhecimento . Se conseguirmos fazer perdurar os nossos níveis hormonais , ou atenuar as suas perdas , envelheceremos seguramente melhor com correspondência na saúde óssea .
Referência igualmente ao papel que a deficiência dos principais neurotransmissores associados ao processo do envelhecimento desempenha , apresentando também um papel major neste processo . Assim , a diminuição da dopamina , acetilcolina , GABA e serotonina , associados normalmente aos processos , respetivamente , de confusão mental , demência , ansiedade / pânico e depressão , foram debatidos e explicados na temática do envelhecimento ósseo – “ WEAK FRAME – WEAK BRAIN ”.
De realçar o papel da vitamina D em todo este processo . A vitamina do Sol é importante para a saúde óssea desde a infância . Ao longo das últimas duas décadas tem-se vindo a reconhecer que a vitamina D , não só é importante para o metabolismo do cálcio e a manutenção da saúde do osso ao longo da vida , mas também desempenha um papel importante na redução do risco de muitas outras doenças crónicas , entre as quais a diabetes , doenças neurológicas e vários cancros . Deveremos , assim , conjugar a prática do exercício físico com a exposição solar , associados a uma correta alimentação , prevenido assim o risco da doença óssea mais prevalente do envelhecimento .
Por fim , fazer referência ao papel individual em todo este processo . Sabemos que no envelhecimento as perdas de reservas orgânicas e a promoção do dano funcional são causados por mecanismos stressores psicosociais . Este processo representa , no fundo , o esforço de adaptação fisiológica aos reais ou percebidos estímulos stressores a fim de melhorar a capacidade de sobrevivência do organismo . As pessoas da sociedade de hoje são submetidas a estilos de vida frenéticos e fatigantes , altamente desequilibradores . Atualmente encontram-se muitos indivíduos que experimentam ao longo dos anos períodos de stress contínuo , proveniente de agressões emocionais ( relacionais , financeiras , ocupacionais ), agressões físicas , como a privação do sono , excesso de cafeína , exposição à dor ou a práticas extremas de exercício sem tempo e sem a devida recuperação .
A realização desenfreada do exercício que temos vindo a assistir de maneira crescente ao longo dos últimos anos , contrapõe os principais objetivos desejados e referidos anteriormente . Quando saltamos em demasia da nossa capacidade de adaptação individual ( alostasis – “ variar para manter a estabilidade ”) por excesso de treino e falta de descanso ( criando carga alostática ), iremos promover um estadio catabólico orgânico provocado pela exposição crónica a esses agentes stressores , nomeadamente pelo aumento crónico de produção do cortisol ( também conhecida por hormona do stress ), cujos principais efeitos deletérios inclui a redução da capacidade anabólica recuperadora , interferindo nomeadamente com as suas principais hormonas , a insulina e o seu factor de crescimento IGF1 ( denominado efeito anti-anabólico do hipercortisolismo ), altamente limitador da recuperação muscular , conduzindo a distúrbios vários , entre os quais incluímos a fadiga , a sarcopenia e a osteopenia , entre outras . Esta consideração é transportável a múltiplas situações orgânicas para além da questão óssea .
Exercite corretamente , vale a pena prevenir .
18 Janeiro 2017 www . revdesportiva . pt