REVISTA CEP EM CENA REVISTA TEATRO CEP N1 | Page 26
O
nde você pode ler apenas a coluna es-
querda, entender como um diálogo entre a coluna
da esquerda e a resposta na coluna da direita ou
ainda ler na sequência como um único discurso
com intervalo. Essa pluralidade de leitura é algo
marcante na dramaturgia atual. O leitor/espect-
ador participa da criação do próprio discurso na
medida em que ele faz opções, quando descarta
informações em detrimento de outras.
As rubricas também sofrem alterações. No
drama clássico há indicativos de como se deve
mostrar tal signo ou qual o sentimento que o ator
deve imprimir na fala. Já nos textos mais atuais
encontramos menos indicações de montagem,
mas na mesma proporção há a crescente preocu-
pação com a diagramação do texto. A disposição
das palavras, os espaços entre textos e a utilização
da caixa alta parecem assumir novos papeis de
rubricas, dando um caminho para a leitura.
Como no caso abaixo:
Eu não imagino
(claramente)
que uma única alma
podia
poderia
deveria
ou deverá
e se eles fizessem
não acho
(claramente)
que outra alma
uma alma como a minha
podia
poderia
deveria
ou deverá. (KANE, 1999, p.13)
Aqui a disposição das palavras parece apontar
um caminho para a leitura. Claro que se tratando
de um texto contemporâneo não há muitas bases
para dizer qual é a leitura certa ou errada, mas
possibilidades. Imagine o desenho de uma esca-
da e o movimento de descida, agora leia o mesmo
trecho usando esta ideia. Isto muda o sentido da
leitura. Usar a própria diagramação como dis-
parador da percepção, como uma nova possi-
bilidade de rubrica, deixando o leitor mais livre,
dilatando o campo de variáveis para este signo.
Ou ainda no fragmento:
- Você quer me falar?
- Sim.
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