Revista Cantera CANTERA 9 | Page 29

Para que você não se esqueça Eu preciso lhe dizer É importante que você não se esqueça que tudo o que há lá fora se dissolve com a velocidade de uma trovoada em alto mar Chove lá fora E eu sou a trovoada que corrói O vapor que escorre pelas janelas do seu ônibus em plena segunda-feira Eu sou a segunda-feira e também o agente que desconstrói o ozônio por cima de sua cabeça Eu sou a molécula da nuvem que te persegue a caminho do trabalho Derramando água e gelo para que você se lembre que nada lhe faça esquecer E também para que você se dê conta do que está em vias de se acabar Há um temporal E pode ter certeza, que esse temporal sou eu que arrasto os carros em direção aos córregos e que levo ratazanas ao seu banheiro porque eu sou as ratazanas Não se esqueça da minha voz ecoando pelos confins da noite e da minha mente confusa Dos meus dedos pálidos tocando sua pele macia Porque eu também sou o arrepio e a relva que acolhe os seus pés enquanto todas as superfícies estão úmidas Me esvaio na enxurrada que acompanha os pas seios para que possa ser a poça que molha o seu vestido Eu sou cada uma das fibras de algodão que o compõe Carregadas por meninos chineses em pleno natal Talvez você não se surpreenda, mas eu também sou o natal e o tédio que abraça enquanto o papai Noel não chega Enquanto eu não chego para que tudo se acabe num festim de carnaval Como um conceito absoluto uma regra imposta pelo espaço Como o retinir da garoa enquanto a noite se expande e você repousa e eu, imerso em brumas de sono Sinto e sei, Eu sou o teu pesadelo perfeito 29