Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 77
76 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015
vem colaborando e auxiliando o Coletivo Papo Reto na organização do evento. Disponibilizando advogados, orientando em questões de segurança, estando presente.
Desde os primeiros dias de organização todas essas comissões se envolveram e a presença delas dão uma legitimidade ao que nós estamos fazendo. No segundo Farofaço,
a Comissão chegou junto para fornecer seus recursos e orientações na construção da
ação e ajudou muito, porque quando a gente cria um evento tomado pela raiva de
que os nossos (moradores de favela e pobres) estão sendo espancados, a gente não
percebe a dimensão que aquela ação pode tomar. Criamos um evento e, de repente, 6
mil pessoas estão confirmadas. A equipe da Comissão de Direitos Humanos mostrou
que não tínhamos pensado em diversos detalhes de segurança dos participantes e
dos próprios membros do Coletivo. Foi bastante importante para podermos atuar e
fortalecer não só no ato, mas na construção desse tipo de eventos.
CDDHC: Por que os participantes do Farofaço fincaram bandeiras nas áreas da
praia do Arpoador?
Thainã Medeiros: Foi um dos momentos da construção desse Farofaço: a criação de
pequenas bandeiras com o nome de todas as favelas que nos lembramos no Arpoador,
porque a saída da Zona Norte, da Zona Oeste, da Baixada para ir à praia na Zona Sul é
uma conquista, porque não só as passagens das linhas de ônibus são caras, os meios
de transporte na cidade são caros, como dentro desse trajeto, a gente pode ser parado
pela polícia, por playboys, justiceiros, e até ali, no momento da praia, ainda podemos
ser parados também. Por isso, chegar à praia é uma conquista e fincar a bandeira
naquele espaço significa marcar a nossa presença. Foi importante as mulheres serem
as protagonistas desse momento, pegarem no microfone, porque nossa memória afetiva de ir à praia fazendo Farofaço é com as nossas mães. Eram elas que nos levavam
à praia com aquelas sacolas cheias de comida e bebida. Lá pelos 12 anos a gente já
carregava as sacolas já com um pouquinho de vergonha, mas na hora da fome, íamos
lá comer o frango que nossa mãe tinha levado. Além disso, se para chegarmos na
praia é uma conquista pelo desafio, sair também é. É uma odisseia no termo claro da
mitologia mesmo: de um cara que foi para guerra e demorou um tanto de anos para
conquistar e depois para voltar. É isso que é ocupar o espaço da praia: não só chegar,
mas é chegar, se manter e voltar para casa com segurança.
O próximo capítulo expõe a situação de violência em que o Rio de Janeiro está submetido diante de uma suposta “guerra às drogas”, sobre a qual não há vencedores. O
capítulo apresenta os casos emblemáticos de violações dos direitos de civis e militares
e atuação da CDDHC nos atendimentos e encaminhamentos. Nesta sessão, há especial atenção às favelas do Alemão e Acari, esta última por apresentar um alto índice
de execuções sumárias e também rememorar os 25 anos das Mães de Acari.