Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 76
RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 75
repete. O exemplo mais claro foi o caso do Flamengo quando prenderam um menino
no poste amarrado, porque ele roubou um celular. O roubo de um celular se tornou
um crime mais grave do que o crime de tortura que aquele grupo de jovens fez. Então,
essas ameaças de agora, não são feitas para a gente do Coletivo Papo Reto. Eram feitas
a todos aqueles que iam à praia e que figuram o estereótipo.
CDDHC: Como essas ameaças foram feitas?
Thainã Medeiros: Eram postadas na página do evento criado no Facebook e diziam
que a gente levaria tumulto para a praia, só que por outros comentários postados pela
própria galera e a descrição do evento, mas se percebia que a proposta nunca foi essa.
Queríamos simplesmente levar favelados para praia. O problema é que na cabeça de
uma pessoa preconceituosa levar favelado à praia é fazer tumulto. Eu sempre tentava
entender qual era a narrativa que existia ali. Uma narrativa bastante constante – por
mais que a gente identifique o preconceito de classe e de cor, um racismo de classe – a
narrativa que eles usam não é essa. Eles não falam vamos à praia pegar esse pessoal
porque eles são pretos, eles dizem que só querem pegar os criminosos. Mas eles estão
detendo as pessoas a partir de um recorte de classe e de cor. Então, só para deixar isso
bastante claro, o racismo no Brasil está presente e é institucional. O racismo está em
várias camadas de preconceitos que culmina num grupo de brancos parando ônibus e
tirando os pretos para meter a porrada, mas com o argumento de que não estão batendo
porque é preto e sim porque é criminoso. Se criminaliza um indivíduo antes de qualquer
ação arbitrária e quem o criminalizou não é julgado por isso. A narrativa da criminalização não só dá o respaldo para quem comete a atrocidade em nome de uma suposta
justiça, como ela o transforma em um herói. Não é à toa que eles se autointitulam os
justiceiros. Justiceiros e heróis são termos que a milícia utiliza para se autodenominar.
CDDHC: O corte das linhas de ônibus que ligam a Zona Norte à Zona Sul é uma
ação política de segregação da cidade?
Thainã Medeiros: Muitos argumentam que a redução das linhas de ônibus e a alteração
dos itinerários é para beneficiar a cidade. Isso pode ocorrer desde que se crie outra rede de
comunicação de transporte, que dê conta do volume de trânsito, sendo integrado para facilitar o acesso da população, mas não é isso que há no Rio de Janeiro. Divulgam opiniões
de especialistas e apresentam estatísticas na tentativa de comprovar o argume