Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 59
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Indianara Siqueira, ativista do grupo TransRevolução, também destacou as falhas de
acolhimento e atendimento dos Centros de Referência. De acordo com ela, a dificuldade de acesso já ocorre desde a portaria do Centro de Cidadania LGBT, localizado
na Central do Brasil, que verifica o tipo de vestimenta das pessoas para autorizar a
entrada. “Levei três meninos negros de chinelos para o Centro Estadual e a trans que
está aqui presente. Mas eles foram impedidos de entrar por causa de suas roupas. Eu
também já fui proibida de entrar lá, mas vi mulheres saindo com roupas mais curtas
do que as minhas, e mais decotadas. Mas elas não foram proibidas de entrar”.
Há problemas ainda no atendimento do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe),
um centro de referência na realização da cirurgia de transgenitalização. Segundo Indianara, o hospital além de estar fechado para inclusão de novos pacientes desde
2013, atende aos pacientes com um “processo transexualizador que não funciona e
que é completamente transfóbico”. Na própria UERJ, responsável pelo Hupe, houve
a fixação de cartazes com ameaças de estupro a transexuais homens que usassem o
banheiro masculino. Em uma turma do curso de Letras, um professor usou conceitos
religiosos para promover homofobia e transfobia em sala de aula.
A forte repressão policial à prostituição, atividade de trabalho de 90% da população trans, também foi criticada. Sendo uma das populações mais marginalizadas e
mais invisibilizadas, episódios de violência institucional e policial contra a população trans são recorrentes, de acordo com movimentos LGBTTs. Bruna Benevides,
do grupo Transdiversidade GTN, destacou que a exclusão de travestis, transexuais e
transgêneros é precoce e a falta de oportunidade no mercado formal de trabalho leva
travestis, transexuais e transgêneros à prostituição como resistência. “Quando nós
somos crianças, a nossa família tem vergonha da gente. Ela não quer dar satisfações
para as vizinhas que têm um filho travesti ou transexual. Somos alijadas de casa, da
escola, da sociedade. A gente tem que se virar com o que a gente tem, e, de fato, a
única coisa que temos é o nosso corpo, porque nem o nosso nome nós temos o direito
de tê-lo. Eu já fui despida de tudo: do meu nome, de escola, da família. O que me resta
é o meu corpo. A única coisa que eu tenho para sobreviver é usá-lo”.