Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 107

106 | RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015
desapareceu , Tereza teve que lidar com a sua dor , a do marido e também explicar ao filho caçula porque o irmão não voltava para casa . “ Ele perguntava pelo Edson toda hora . Falava que iria sair para procurá-lo . E eu entrava em desespero ”, descreve . O filho mais novo era portador de transtorno mental , um dia conseguiu sair de casa para procurar o irmão e foi atropelado . Morreu na hora .
Há cerca de um ano , Dona Tereza mais uma vez enfrentou outro trauma . O marido sofreu um acidente e se feriu na perna . Ao procurar atendimento no Hospital de Acari e não receber um tratamento adequado , o marido diabético teve uma grave infecção na perna e foi necessário amputá-la . É Dona Tereza quem cuida do marido sozinha . Até hoje não recebeu qualquer reparação do Estado , seja um auxílio psicológico , financeiro ou justiça do Estado . Sua saúde emocional é delicada e a física também requer cuidados médicos .
Quem ajuda Dona Tereza são seus vizinhos e Dona Ana , outra Mãe de Acari . Ela também está doente e precisa de atendimento médico e psicológico . No braço esquerdo , um grande caroço – do tamanho de uma bola de pingue-pongue – próximo ao punho causa dores insuportáveis . Também tem indicação para fazer um exame de mamografia , mas não consegue atendimento . Aguarda há meses uma vaga no Sistema de Nacional de Regulação de Saúde ( SIGREG ) do Datasus .
As duas , Dona Ana e Dona Tereza , tornaram dor em amizade e continuam juntas lutando por justiça . Descrentes e cansadas , elas aceitaram conceder uma entrevista para a equipe técnica da CDDHC Alerj , em setembro de 2015 .
CDDHC : Como avalia a luta nesses 25 anos ? Dona Tereza : Desde o começo , uma tentava proteger a outra . Mas eu estou cansada de tudo . De esperar por essa justiça que não vem , de dar entrevista . São 25 anos sem saber onde está meu filho . Eu só queria enterrar meu filho . Nem a certidão de óbito o Estado me dá . Hoje , vejo que a luta foi em vão . Cadê o resultado ? Estou sozinha cuidando do meu velho . Só restou mesmo a saudade dos meus filhos e a saúde que já não temos . Eu quero justiça , mas ainda tenho muito medo .
CDDHC : A senhora se sente desamparada ? Dona Tereza : Sim . Agora mesmo me ligaram dizendo que tinham um carro preto me procurando lá na porta de casa . Não sei o que é . Não sei o que pode ser . Mas no meio do medo , eu retomo e cobro . O Estado tem que me dizer o que fez com meu filho . Tem que ser condenado pelo que aconteceu com meu filho . Mas até hoje eu tenho a sensação que meu menino vai entrar pela porta de casa . Falaram que o crime prescreveu , mas minha dor não . O estado tem que dar conta . Eu estou doente , será que não tem ninguém para me ajudar ? Nem indenização , nem no bolso o Estado sentiu ou pagou pela dor do meu filho . Quero justiça !
CDDHC : Dona Ana , como a senhora avalia tudo isso ? Dona Ana : Só faltam jogar a pá de cal . Nossa saúde vai minguando . Eu sou muito mais nervosa . Sempre falavam que tinha um cemitério ali ou lá . E a gente nada de achar nossos filhos . A Edméia foi assassinada procurando o paradeiro deles e isso foi