Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2015 | Page 104
RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ | 2015 | 103
4.5.2. ENTREVISTA: GILMARA COUTINHO
“A polícia quase destruiu
os sonhos da minha filha”
Gilmara Coutinho critica o
Estado por não responsabilizar
aqueles que balearam a sua
filha Ana Júlia
G
ilmara Coutinho, de 41 anos, moradora há 40 anos da favela de Acari, estava
em casa quando recebeu um telefonema dizendo que a filha Ana Júlia estava
machucada. Segundo Gilmara, Ana Júlia estava saindo da escola acompanhada de outras três crianças e uma vizinha que segurava uma criança de colo, quando
próximo ao Valão, na Praça Roberto Carlos, começou uma suposta troca de tiros. Havia uma incursão da polícia civil na região.
Em determinado momento, o grupo sentiu vários tiros na direção deles. A vizinha
se jogou no chão para se proteger e empurrou as crianças para atrás de uma árvore.
Mesmo assim, Ana Júlia foi ferida. A vizinha começou a gritar e cerca de dez policiais
civis, dentre eles o delegado e responsável pela operação, foram em direção ao grupo.
Um deles pediu calma e afirmou que a polícia iria prestar socorro. Porém, eles cruzaram toda a favela até chegar à Avenida Brasil com Ana Julia ferida. Foi nesse momento que a menina entrou em desespero e gritou: “Por que você atirou em mim? Por que
você fez isso? O que eu fiz pra você? Eu não quero morrer!”.
CDDHC: Como foi o socorro prestado pela polícia?
Gilmara: Os policiais balearam a minha filha e a fizeram ela andar por mais de 500
metros sangrando. Depois largou a Ana Júlia no Hospital de Acari e sumiram. Ela foi
transferida para o Souza Aguiar e lá o atendimento foi adequado. Mas até hoje ninguém arcou com nada e está por isso mesmo. Minha filha tomou dois estilhaços nas
pernas e um tiro no peito. A bala ainda não saiu e está alojada no pulmão.