Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 96

4.5. Célio de Barros e Júlio Delamare: para quem? Desde a polêmica que ronda a concessão do Complexo do Maracanã e os projetos de reformas, o parque aquático Júlio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros ficaram a abandonados para favorecer os desejos de empresários com apoio da prefeitura do Rio de Janeiro de transformação do complexo, favorecendo mais os negócios e menos a prática esportiva e a importância cultural do Maracanã para a cidade. As contradições são inúmeras em torno do projeto. Sem respeitar o patrimônio material e imaterial que representa o Maracanã, o consórcio liderado pela Odebrecht implementou diversas mudanças que interferem no uso do complexo. Uma delas é a supressão das pistas do Célio de Barros para dar lugar a um estacionamento, exigência da FIFA para os jogos da Copa do Mundo. Além disso, a proposta do governo com a iniciativa privada era a construção de um shopping. É importante ressaltar que o estádio era o único em que abrigava equipamentos para todas as modalidades do atletismo. Por conta disso, os atletas do Rio de Janeiro estão sem condições adequadas de treino, um contrassenso em uma cidade que será sede das Olimpíadas em 2016. O ex-governador Sérgio Cabral havia dado uma declaração após inúmeras manifestações contrárias ao projeto de que o estádio iria ser reconstruído e reaberto para os atletas. Em janeiro deste ano, foi feito um aditivo ao contrato de concessão retornando a administração para o Estado. Isto quer dizer que a gestão dos equipamentos voltou a ser da Superintendência de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro – SUDERJ, tanto do Célio de Barros quanto do Júlio Delamare. Isso poderia significar que as demandas pela reconstrução do estádio, assim como a manutenção do parque aquático, estariam garantidas. Inclusive, em outubro de 2013, o governo do estado solicitou R$ 10 milhões em recursos para o Ministério do Esporte para as obras da pista, com previsão de início no primeiro bimestre de 2014. Mas os fatos demonstram o contrário. A dois anos das Olimpíadas, não há sinalização de início das obras, apenas a previsão de reabertura para depois dos jogos em 2016. O parque aquático Júlio Delamare já havia sofrido reformas para o Pan-americano e foi fechado durante a Copa do Mundo para viabilizar um novo projeto ligado aos Jogos Olímpicos. Havia sido divulgado que, em agosto, o parque seria reaberto para as atividades e projetos de esporte em vigor. No entanto, até hoje isso não ocorreu. Segundo informações de antigos alunos, as piscinas foram esvaziadas, contribuindo em curto prazo para deterioração dos equipamentos do parque. É preciso ressaltar que a prefeitura do Rio, para garantir seus interesses quanto à reforma do Complexo do Maracanã, havia cancelado o tombamento do Júlio Delamare e Célio de Barros, vindo a revogar o destombamento em agosto de 2013. Por essa razão, qualquer projeto de intervenção precisa respeitar critérios de preservação do patrimônio do parque aquático. As exigências para os Jogos Olímpicos não podem interfe rir nas suas características físicas, salvo instalações temporárias que não danifiquem ou interfiram no patrimônio. A situação de Célio de Barros é mais delicada, pois o estádio foi completamente destruído. Contudo, apesar dos pesares, pode ser uma oportunidade de reconstrução do projeto original com equipamentos mais modernos e adequados às demandas dos atletas. O problema é que não sabemos se o projeto original do estádio será respeitado e se de fato voltará para os atletas amadores e profissionais. 95