Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 69

gão ouviu em todas as unidades prisionais e em todas as galerias denúncias a respeito de agressões praticadas pelo SOE, o que configura uma prática comum. Quando a reclamação é feita na primeira galeria até a última, há que se levar em consideração o que foi ouvido. A reclamação sobre o transporte realizado pelo SOE, podemos dizer, que é a primeira queixa feita pelos presos, sejam homens ou mulheres. Os presos relatam que são algemados de forma muito penosa e brusca durante o transporte. Eles são amontoados em viaturas com capacidade para oito ou dez pessoas, mas que, por vezes, comportam 12, 15, 20 internos a serem transferidos. Muito acima, portanto, de sua capacidade. Cabe evidenciar que as viaturas não possuem cinto de segurança e são em formato de camburão, assim, como os presos viajam soltos, balançando dentro do caminhão, vão se machucando, machucando uns aos outros, até que possam chegar ao destino. Nos relatos referentes à transferência para o tratamento médico, para a UPA ou para o Hospital Hamilton Agostinho, usualmente escuta-se dos inspetores a seguinte frase “a gente quebra e o médico conserta”. Há que se fazer uma ressalva, pois muitos presos afirmam ao MEPCT/RJ que preferem não ser atendidos no hospital, porque a ida até o hospital vai ser pior para eles do que ficar sem receber o atendimento médico. Em 2012, o MEPCT/RJ realizou uma visita ao complexo de Japeri, unidade Cotrim Neto. Na unidade, o órgão escutou de todos os internos, em todas as celas, relatos de graves problemas com o transporte e que a unidade do SOE em frente à unidade era o local onde ocorriam as agressões. Alguns presos se apresentaram e relataram que já haviam sido agredidos e torturados dentro daquela base. Infelizmente, nem todos se colocam à disposição para registrar oficialmente a agressão, para que se possa responsabilizar os agentes. De qualquer forma, foi um fato relatado, não só, obviamente, para a SEAP, mas também para o Comitê de Prevenção à Tortura e para as demais autoridades, porque, mais do que pensar na responsabilização criminal desse agente, há que se desconstruir a cultura do “esculacho”. Em 2013, o caso que chamou mais atenção, pelo menos que chegou a nós, foi o caso dos manifestantes agredidos no trans68 porte da cadeia pública Patrícia Acioli para a cadeia pública Bandeira Stampa, Bangu 9, no complexo de Gericinó. Além de serem transportados em um veículo que não tinha a capacidade para o número de pessoas presas, eles foram agredidos na entrada da unidade. Em março de 2014, o MEPCT/RJ teve acesso a um boletim de ocorrência sobre lesões corporais efetuadas pelo SOE em um interno, que relatou ter sido agredido dentro da UPA em companhia de mais ou menos seis ou sete outros internos. O interno conta que eles receberam tapas na cara, tapas nas nádegas e chineladas, além disso apanhavam sem roupa e na chuva. Esse interno disse ainda que estava desidratado, que por isso foi levado à unidade de pronto atendimento. Mesmo tendo feito registro de ocorrência, foi possível perceber que o interno não pôde identificar os agentes, porque estes não utilizavam identificação. Apesar do interno