Relatório anual da Comissão de Direitos Humanos da Alerj - 2014 | Page 63

Racismo institucional, justiça criminal e genocídio da Juventude Negra “Quando a ordem significa escravidão e opressão, a desordem é o começo da Justiça e da liberdade.” (Thomas Carlyle) Por Bruno Cândido1 1. O racismo no Brasil 1. Jovem, advogado, militante do movimento negro. 2. http://www.conectas.org/ pt/acoes/justica/noticia/25370especialista-em-desconversar 62 Um dos maiores desafios do Brasil é discutir os seus problemas internos, sendo até apelidado por grandes entidades de Direitos Humanos como “especialista em desconversar”2. O vulgo, para a infelicidade dos brasileiros, em especial os vulneráveis, tem grande carga de razão. Sem compromisso com soluções humanas para problemas sociais, caminhamos com enorme e assustadora carga de violações a direitos fundamentais. Dos tabus, em termos de dialogo, nenhum assunto supera a realidade racial do país. A rediscussão da escravidão do povo negro no Brasil com sua efetiva reparação e o debate sobre racismo enfrentam diversas dificuldades em nosso país, chegando ao nível da invenção de mitos e falácias para desarticular e desestimular qualquer reflexão e/ou indenização pelo o que foi considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como maior crime contra a humanidade. O Brasil foi descoberto há quinhentos e quatorze anos. Durante trezentos e cinquenta e oito anos vigorou o sistema de trabalho escravo, sendo o Brasil o país que mais recebeu africanos que foram escravizados, e o último país a abolir formalmente a escravidão. Ou seja, 69,64% da existência do país foi dedicado à escravidão de seres humanos, com base no mito de superioridades de raças. A lei Aurea, de 13 de maio de 1888, não pretendia incluir o negro socialmente, sendo sua abolição meramente formal, sem conferir igualdade material, posto que, livre, porém coisa. Neste sentido, afirma Lopes: É preciso afirmar que o processo de libertação dos escravos não se deu por uma mentalidade humanística da elite brasileira, mas da emergência da reestruturação produtiva cujo fim do regime servil de trabalho era pré-condição. (1995) A vigente Constituição da República Federativa do Brasil, além de repudiar o racismo tornando-o imprescritível, inafiançável e inalienável, prevê a erradicação das desigualdades como o &