RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Resumo Executivo | Page 22

22 - Notícias publicadas pelo jornal O Globo entre os anos de 1985 e 2017. Esse levantamento foi feito na base do acervo online do jornal, a partir da palavra- chave “Tortura”; - Escuta e registro, em áudio e vídeo, de testemunhos de violência do Estado rela- cionados a esse tema. Além dos dois testemunhos coletivos já citados, integram o Volume 2 do Relatório Final, 40 relatos de assistentes sociais, psicólogas(os), cientistas sociais, defensoras(es) públicas(os), promotoras(es), professoras(es), militantes, familiares e egressos. Estes formam o coração desse trabalho; - Textos elaborados por profissionais e militantes do campo dos direitos huma- nos e que compõem algumas seções do volume 2 do relatório; - Reuniões, entrevistas e conversas realizadas com diferentes atores do campo temático em questão e que foram fundamentais para a definição dos caminhos da pesquisa e para a produção das análises a partir do material levantado. O trabalho de coleta e análise dos dados, dos documentos e dos testemunhos, seguiu uma metodologia cartográfica e qualitativa. Cartográfica porque não ple- namente definida a priori: cada conversa, cada testemunho e cada documento encontrado, abriam um novo caminho possível de análise e de desdobramento da pesquisa. Entendemos que não deveríamos definir os rumos da pesquisa, e sim que esses deveriam ser definidos pelo próprio campo no qual esta se pro- duzia. Qualitativa porque foi possível acessar uma infinidade de documentos e relatos que, a partir dos universos que traziam à tona, permitiram a percepção de uma dinâmica bem maior e mais profunda do que os fatos específicos que des- vendavam. Tal percepção exigiu um mergulho aprofundado nos detalhes dessas memórias. Uma importante constatação da pesquisa, que foi reafirmada por diferentes pes- soas escutadas, se refere à deficiente produção e sistematização de dados por parte das instituições do Estado. Foi apontada, também, a falta de transparência para o acesso as informações eventualmente produzidas sobre agressões e tor- turas cometidas pela polícia e dentro das instituições de privação da liberdade. A produção, sistematização e publicização de informações por parte do Estado é uma questão que precisa ser enfrentada com seriedade. No que se refere ao tema da privação da liberdade e da tortura, como primeira experiência realizada pelo Estado para a garantia do registro dessa história, op- tou-se por priorizar a escuta de diferentes pessoas - dentre milhares - que traba- lharam/trabalham com ou foram/são vítimas diretas dessa violência. O Volume 2 é composto pelos testemunhos coletados ao longo dos anos de 2017 e 2018, onde foram escutadas mais de 50 pessoas. Ao longo do trabalho, a partir de breves cortes, estão transcritos esses testemunhos como forma de registrar as memórias partilhadas e de permitir o acesso ao conteúdo relatado por pessoas que abriram suas vidas e construíram conosco este trabalho. Se o fim da ditadura supostamente rompeu com a possibilidade amplamente legitimada do uso da tortura contra àqueles que se opuseram e resistiram a esse devastador regime, a retomada da democracia não significou o fim dessas práti- cas, que antes já existiam e que seguiram em curso em relação a grupos histori- camente afetados por elas. Negras e negros, pobres, periféricos e favelados, via de regra, não experimentam as garantias democráticas que - com imensa razão - lutamos para manter e ampliar. No período democrático, com a intensificação no final da década de 1990 e ao longo dos anos 2000, de uma política de guerra