RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Relatório Final Desaparecimento Forçado na Democ | Page 56
ele passou a pautar a violência da policia no trato com os manifestantes, acusações contra o
governador e outros políticos locais, a manutenção do poder de investigação do Ministério Público,
o apoio a greve dos professores, dentre outros temas.
Em meio a ebulição social do momento, a notícia do desaparecimento do pedreiro e a suspeita de
que ele havia sido torturado justamente por policiais de uma Unidade de Polícia Pacificadora,
política de segurança pública iniciada em 2008, que tinha como pressuposto a diminuição da
violência policial sobre os moradores de favela, causou grande comoção. A violência por ele sofrida
se agregou as demais pautas, o caso tomou grandes proporções, e o grito de sua família “Onde está
Amarildo?” passou ressoar na mídia nacional e internacional.
O inquérito foi finalizado ainda em 2013 e no mesmo ano se iniciou a ação penal contra 23 policiais
foram acusados de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver, associação criminosa e fraude
processual. Foram realizadas perícias, identificadas contradições nos depoimentos, realizadas
interceptações telefônicas que comprovaram conluio para a realização de inúmeras fraudes
processuais e juntadas provas testemunhais. Dentre as provas testemunhais, ressalte-se que vários
policiais foram obrigados a se retirar da sede da UPP e permanecerem em contêineres que ficam ao
lado da sede principal:
As testemunhas presenciais DEZIA, CAROL, MONIQUE E ALLAN JARDIM, policiais do setor
administrativo e que não contavam com a confiança de EDSON, foram uníssonas ao
afirmarem que a ordem para permanecerem dentro dos contêineres foi dada por EDSON e
que foram obrigadas a escutar todos os sons de sofrimento oriundos da parte de trás da
sede. A fim de impedir suas saídas, foram colocados policiais do lado de fora das salas (fls.
3757, fls. 3756 e fls. 3755) 126
Em outros trechos, três policiais que se encontravam no contêineres narram:
Acrescentou ter escutado uma voz cansada, que implorou e disse: “Não, não, isso não! Me
mata, mas não faz isso comigo”. A policial disse que todo o barulho vinha da parte de trás
dos contêineres e que pode afirmar que alguém estava sendo torturado naquele instante.
Narrou que posteriormente ouviu barulho de “coisas arrastando com esforço”, parecendo
se tratar de um corpo sendo arrastado. 127
126
Ver Sentença Judicial pg. 101 Disponível em: http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/wp-
content/uploads/2017/07/sentenca-amarildo.pdf Acesso em: novembro de 2018
127
Ver Sentença Judicial pg. 103.
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