RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA Relatório Final Desaparecimento Forçado na Democ | Page 39

esperanças de que meu filho esteja vivo, mas nem todas têm o mesmo pensamento. (Jornal Informativo do Ceap, sem data – caderno de recortes de Tereza) MARILENE LIMA E SOUZA (fiscal, mãe de Rosana) Essa morosidade com relação ao caso é porque não temos nada para dar a não ser uma vontade enorme de encontrar nossos filhos. Somos 11 que estamos aí procurando os nossos, mas há outras mães que por medo não se manifestam. A gente tem que continuar lutando porque alguém tem que fazer alguma coisa. (Jornal Informativo do Ceap, sem data – caderno de recortes de Tereza) VERA LÚCIA FLORES (auxiliar de serviços escolares, mãe de Cristiane) Quando fomos depor, o delegado Heraldo Gomes disse que não falava com mãe chorando, só com deputados. Se nossos filhos fossem ricos e não negros, pobres e favelados, os culpados já teriam aparecido e nós teríamos sido tratadas de outra maneira. (Jornal Informativo do Ceap, sem data – caderno de recortes de Tereza) TEREZA DE SOUZA COSTA (dona de casa, mãe de Edson) Eu sinto saudades, saudades muito grandes do nosso filho. Meu marido sofre, bebe e chora a falta do Edson. Queremos resolver esta angústia e que as autoridades façam os culpados confessarem o que fizeram com nossos filhos. (Jornal Informativo do Ceap, sem data – caderno de recortes de Tereza) 77 A percepção das “Mães de Acari” se alinha a de muitas outras na mesma situação. Quase um ano depois, outra mãe, Maria de Jesus Simyoni, dona de casa, moradora da zona oeste, se tornou conhecida por percorrer “pontos de desova” de cadáveres a procura do corpo de seu filho. Ela esteve em três hospitais, cinco delegacias e três institutos médicos legais a procura de seu filho William Simyoni, desaparecido em 25 de fevereiro de 1991. De acordo com um vizinho que não queria se identificar, ele viu William ser obrigado a entrar num carro da polícia civil. Maria de Jesus inconformada com o descaso das autoridades resolveu buscar o corpo de seu filho solitariamente. Passou a se deparar com cadáveres boiando no Rio São Francisco, divisa de Santa Cruz e Itaguai, e outros sendo devorados por Urubus, avisou a polícia em cada encontro. Quando a reportagem foi publicada, ela já havia encontrado os corpos de mais de uma dezena de pessoas. Não de seu filho. 78 Voltando ao caso da “Chacina de Acari”, o Estado brasileiro não foi jamais capaz de responsabilizar os culpados nem identificar o paradeiro das vítimas. A omissão do Estado levou inclusive a morte de uma das lideranças do movimento, a mãe de Luiz Henrique da Silva Euzébio, Edméia da Silva Euzébio, assassinada de 15 de janeiro de 1993, em plena luz do dia (17:30h) com dois tiros na cabeça na estação de metrô da Praça Onze. Ela havia estado, pouco antes, no Complexo Penitenciário Frei 77 ARAÚJO, Fábio. Do Luto à luta: a experiências das mães de Acari. Disponível em: http://www.desaparecidos.org/brazil/voces/araujo.pdf 78 ANEXO VII – O Globo, 12 de março de 1991. O caso teria sido registrado na 36 DP Santa Cruz. Não foi possível encontrar maiores informações sobre o caso. 39