RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 93
O que está acontecendo no Dona Marta é uma ocupação séria, diferente
de todas as outras. Posso afirmar que não está mais havendo venda de
drogas na favela [O Globo, 03/12/08].
Com quase um mês de ocupação diferenciada, que obteve como resultado imediato
reduções drásticas dos índices de criminalidade na comunidade e no seu entorno, o
governador Sérgio Cabral e o Secretário de Segurança Pública, Mariano Beltrame,
anunciam uma possível extensão da ação para comunidades vizinhas, como os morros
do Chapéu-Mangueira e da Babilônia, no Leme [O Globo, 10/12/08]. No entanto, em
janeiro de 2009, Beltrame anuncia que a próxima ocupação seria na Cidade de Deus, o
último reduto do tráfico na Zona Oeste desde 2005. Nesse período, quando as milícias
eram vendidas como “ligas de autodefesa comunitária” ‘e recebiam abertamente o apoio
da Associação de Comércio e Indústria de Jacarepaguá, o presidente da associação
profetizava: “o próximo alvo é a Cidade de Deus” [O Globo, 20/03/05]
No dia dezessete de fevereiro de 2009, a Cidade de Deus recebe a recém-batizada
Unidade de Polícia Pacificadora, após três meses de ocupação prévia. Uma torre
blindada foi inaugurada pelo governador na Praça Padre Júlio Groten e um centro de
referência aberto para os jovens da favela. Logo que o poder público entrou na
comunidade, algumas mudanças foram implantadas. Primeiro, a polícia decretou um
toque de recolher. Os moradores estavam proibidos de circular pela favela depois de
uma da manhã. As fiações elétricas irregulares foram destruídas e prontamente
substituídas pelo serviço oficial pago da Light. O serviço de televisão a cabo pirata foi
reprimido pela polícia e as operadoras puderam vender pacotes de assinatura aos
moradores. Além disso, a prefeitura derrubou 78 construções irregulares, a maioria
pequenos comércios locais.
A experiência das UPPs foi sendo expandida em ritmo acelerado, substituindo, em
parte, a política de enfrentamento letal que caracterizou os dois primeiros anos de
mandato de Sérgio Cabral. A redução da violência policial, a desestabilização das
facções criminosas e a maior discrição das milícias, que passou a agir de forma menos
ostensiva e explícita na condução de suas atividades ilegais, resultou na menor taxa de
homicídios do estado nos últimos trinta anos. Nesse período, o miliciano Batman havia
sido preso novamente; o ex-governador Garotinho e os ex-chefes de Polícia Civil
Álvaro Lins e Ricardo Hallak, entre outros, foram condenados; o Ministério Público