RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 90

uma espécie de xerife da comunidade: o tenente do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, Wolney de Paula, de 56 anos, que há 28 mora no Batam, presenciou a ação do tráfico tanto quanto da milícia e, desde 22 de junho, preside a associação de moradores local [O Globo, 06/08/08]. Na prática, a solução do governador Sérgio Cabral foi aplicar a sugestão de Natalino, preso por chefiar a milícia no Batam, de transformá-las em Polícia Comunitária. No próprio Batam. Apesar da liberalidade do governo, as milícias tiveram alguns de seus líderes presos nesse período. As operações da polícia contra a milícia, no entanto, chamavam atenção pelo profissionalismo. Em incursões nas comunidades dominadas pelos milicianos, policiais civis e militares realizam prisões de quinze, vinte membros, todos fortemente armados, sem disparar um tiro. Nenhum ferido ou morto. Os saldos das operações eram inversamente proporcionais àqueles observados nas comunidades dominadas pelo tráfico, onde, quase sempre, as incursões da polícia terminavam com quinze, vinte mortos, sem ninguém preso. Mesmo diante da pressão instaurada com a tortura dos jornalistas e, na sequência, com a CPI das Milícias, as relações entre as polícias e os grupos de milicianos oscilavam entre a solidariedade escrachada e o medo. Policiais que prendiam milicianos ou apreendiam máquinas de caça-níqueis ou vans ilegais eram executados. O presidente da CPI das Milícias, entre outros deputados, foi jurado de morte. A esse contexto, a violência produzida pelos milicianos atingiu níveis alarmantes depois que diversos grupos entraram em guerra na Zona Oeste e na Baixada. No âmago da disputa, o preenchimento do vácuo de poder deixado pela desarticulação sofrida com a prisão de alguns líderes. Em especial no mercado clandestino do transporte clandestino, a disputa pelos pontos e linhas de vans rendia execuções diárias. No primeiro semestre de 2008, as denúncias de execuções relacionadas a matadores de aluguel tiveram um aumento de 75%. A atuação de policiais como matadores de aluguel é detalhada em investigações em andamento na Delegacia de Homicídios (DH, no Centro) e na 16ª DP (Barra da Tijuca). Os inquéritos revelam que os grupos, distintos na origem, chegam a atuar em conjunto, caso do assassinato do ex deputado estadual Ary Ribeiro Brum. As investigações indicam que o político foi executado por uma espécie de consórcio articulado por um inspetor da DHBF com dois oficiais que pertencem ao Bope. O crime teria sido encomendado por um empresário, então sócio do ex-parlamentar em um empreendimento. Os matadores teriam