RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 89

uma matéria sigilosa sobre a atividade dos grupos paramilitares na Favela do Batam, Zona Oeste do Rio de Janeiro, no final de abril. A notícia provocou uma reviravolta em relação a atuação desses grupos no imaginário social, passando de justiceiros comunitários a membros do crime organizado. Em junho a Assembleia Legislativa aprovou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as milícias, solicitada e presidida pelo deputado Marcelo Freixo. Todos os deputados votaram a favor da instauração da CPI, exceto Flavio Bolsonaro, que pleiteava, assim como Natalino fizera, a legalização dos grupos paramilitares. A CPI teve acesso a denúncias de diversos órgãos, recebendo depoimentos de policiais, pesquisadores e autoridades públicas de diferentes esferas. Na época o relatório apontou que aproximadamente 171 comunidades poderiam estar sobre o controle das milícias. Dessas, 119 nunca tinham pertencido ao crime organizado antes, rompendo com o mito de que a milícia tinha como principal motivação acabar com o tráfico. Como resultado da CPI, o relatório acusou 225 pessoas, políticos, policiais, bombeiros e civis. Muitos parlamentares foram indiciados por envolvimento com as milícias, sendo o exemplo mais emblemático o do ex-deputado Natalino Guimaraes (PFL), que chefiava uma facção de milicianos conhecida como Liga da Justiça. Junto com seu irmão, Jerônimo Guimarães, o ex-vereador Jerominho, foi condenado a prisão por formação de quadrilha e outros crimes. Matadores, atentados e chicanas Embora as milícias tivessem sofrido um sério golpe com os episódios desencadeados a partir da tortura dos jornalistas na Favela do Batam, sobretudo os resultados da CPI das Milícias, os grupos paramilitares ainda gozavam de enorme impunidade. A vista grossa das autoridades públicas para com os milicianos era escandalosa. Uma das medidas mais explícitas em relação à falta de compromisso do governo de Sérgio Cabral em coibir a ação desses grupos foi a intervenção de sua cúpula de segurança na comunidade onde a tortura dos jornalistas do O Dia aconteceu. Desde 11 de junho, o Jardim Batam – como os moradores fazem questão de chamar o local – experimentam um policiamento especial, formado por PMs da ativa que moram na própria favela ou em comunidades vizinhas. Eles trabalham no Posto de Policiamento Comunitário (PPC) inaugurado naquela data, fazendo rondas na favela e sob a orientação de