RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 83
SÉRGIO CABRAL
2007-10 / 2011-14
O governo de Sérgio Cabral em seus dois mandatos é marcado por uma agenda de
ocupação de territórios das chamadas “áreas conflagradas”, que se dá sob duas
diferentes formas. A primeira, de caráter extraoficial, mas intimamente conectada aos
centros de poder estatal, se materializa com o avanço vertiginoso das milícias. Já a
segunda, que acontece quase que por acaso, é o projeto de ocupação militar levado a
cabo via Unidades de Polícia Pacificadora. Ainda que pareçam antagônicos, os projetos
de ocupação das milícias e das UPPs eram complementares e responderam a um
objetivo semelhante: colocar sob a guarda armada da polícia a população pobre do Rio
de Janeiro.
A cúpula da segurança pública de Cabral era formada pelo delegado federal José
Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança Pública; pelo coronel da PM Ubiratan
Ângelo no comando da Polícia Militar; e, na chefia da Polícia Civil, o delegado Gilberto
Ribeiro. Do ponto de vista técnico, era uma equipe de qualidade. Beltrame tinha um
histórico de atuação na área de inteligência da PF, com ênfase no combate ao crime
organizado. Por sua vez, o coronel Ubiratan, que tinha um perfil intelectual, trabalhou
como consultor da ONU sobre policiamento comunitário no Haiti e era um entusiasta da
integração entre polícia e comunidade. Finalmente, o delegado Gilberto Ribeiro foi
titular da 5ª DP e se notabilizou após efetuar cento e cinquenta prisões por tráfico de
drogas e outros crimes sem disparar nenhum tiro. Pela sua atuação à frente da 5ª DP, a
delegacia ganhou o selo ISSO 9001, a única do estado a receber esse certificado.
A despeito das expectativas, a administração de Sérgio Cabral não se diferenciou de
outras nos primeiros momentos de governo, que foi marcado, em primeiro lugar, pela
solicitação de apoio das Forças Armadas para combater a criminalidade no estado, e, em
um segundo plano, por uma política de enfrentamento orientada pela carnificina. No seu
discurso de posse, em cerimônia no Palácio Tiradentes, Cabral se dirige ao crime
organizado no Rio de maneira veemente:
Esses facínoras, esses covardes, terão a resposta de um governo sério que
defende a ordem! [O Globo, 02/02/07]
Em defesa da ordem