RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 72
Na oportunidade, o secretário de segurança pública, Josias Quintal, aproveitou para
sintetizar não só o espírito da referida operação, mas da condução da política de
segurança pública na gestão Rosinha Matheus:
Nosso bloco está na rua e, se tiver que ter conflito armado, que tenha. Se
alguém tiver que morrer por isso, que morra. Nós vamos partir pra
dentro. Não tem conversa. A polícia tem que ter cuidado com o inocente,
todo mundo sabe disso. Mas não é por conta de uma extrema
preocupação que não vamos fazer nossa parte. A polícia vai partir pra
dentro mesmo [O Globo, 27/02/03].
Em dezessete de abril, o pintor Carlos Alberto da Silva Ferreira, 21 anos; o estudante
Carlos Magno de Oliveira Nascimento, 18 anos; Everson Gonçalves Silote, taxista de 26
anos; e o mecânico Tiago da Costa Correia da Silva, 19 anos; foram executados por
policiais do 6º BPM durante uma operação no morro do Borel, na Tijuca. Carlos,
Magno, Carlos Alberto e Tiago foram alvejados por policiais que se encontravam em
uma laje, quando estavam próximos a uma barbearia e saíram em disparada depois que
ouviram os tiros efetuados durante a operação. Os dois primeiros foram mortos com
disparos na cabeça e tórax. Carlos Alberto levou doze tiros, sete pelas costas. Everson
foi abordado na rua e recebeu cinco tiros – três dos quais acertaram suas costas, cabeça
e coração.
Na semana seguinte, o ex-governador Anthony Garotinho assumiu o cargo de Josias
Quintal e se tornou o novo Secretário de Segurança Pública do estado. No dia de sua
posse, anunciou um pacote contra o crime, cujas medidas envolviam a compra de
helicópteros, a construção de cabines blindadas para a polícia militar e a distribuição de
panfletos informativos em blitz policiais, que seria realizada por moradores de
comunidades. Além disso, o ex-governador e então secretário de segurança anunciou
que determinaria aos delegados que passassem a enquadrar os moradores das favelas
envolvidos em atos de depredação, quando em protestos contra a ação da polícia, por
crime de associação ao tráfico. [O Globo, 29/04/03]. Quinze dias depois de sua posse, o
ex-governador comemorava em um programa de rádio a marca de cem supostos
criminosos sob sua administração.
O que eu posso fazer? Eu não quero que ninguém morra, mas entre
morrer policial ou cidadão de bem e um criminoso que está armado, o
que a gente vai fazer? Tem de enfrentar! [JB, 12/05/03]
O descontrole externo da atividade policial