RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 62

Ouvidoria de Polícia. Os casos eram os mais graves e foram selecionados em um universo que compreendia quase duas mil denúncias coletadas em pouco mais de um ano. Por sugestão do Procurador Geral José Muiños Pinheiro Filho, a comissão Mãos Limpas seria formada por dois delegados, dois representantes da Polícia Militar, o Ministério Público – e presidida pelo Secretário de Segurança Pública Josias Quintal. A abstenção do Ministério Público em exercer seu dever constitucional de controle externo da polícia, trazendo para o cerne da investigação representantes da própria polícia, foi justificada pelo Procurador Geral da seguinte forma: Um tipo de apuração como esta, sob responsabilidade de uma comissão, exige uma estrutura que o MP não tem, porque serão requisitados documentos e realizadas diligências em outros estados, por exemplo. O governador queria o MP na supervisão geral, mas eu sugeri o coronel Josias [O Globo, 17/03/2000]. A comissão Mãos Limpas resultou em algumas poucas denúncias por improbidade. Entre os acusados estava o Chefe de Polícia Civil Rafik Lozada. Nenhum policial foi realmente punido. As cento e uma denúncias encaminhadas pela Ouvidoria de Polícia não foram investigadas [O Globo, 02/07/2000]. O Ministério Público também indiciou o ex-subsecretário Luiz Eduardo Soares por “falsa comunicação de crime” [O Globo, 01/11/2000]. Avanços, retrocessos e insurgência nas corporações O clima era tenso entre o governo Garotinho e as corporações policiais por conta da implantação da Nova Polícia e do Instituto de Segurança Pública [ISP]. A ideia sofreu forte resistência desde os seus primeiros momentos à frente do Palácio da Guanabara, a ponto do governador sugerir, em diversas ocasiões, que certos setores da polícia estavam tentando intimidá-lo. Criado pela Lei nº 3.329 de 28 de dezembro de 1999, o ISP estava prestes a entrar em funcionamento em dezembro de 2000. Com data marcada para o início do trabalho, a Associação dos Delegados de Polícia [ADEPOL] entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal arguindo a inconstitucionalidade do ISP, enquanto o Clube de Oficiais da PM acionou o Órgão Especial do Tribunal de Justiça contra o Instituto. No final de novembro daquele ano, a ADEPOL realiza uma assembleia em que os delegados se posicionam de forma unânime contra o ISP. Em 04 de dezembro a Polinter sofre um atentado com granada. Em 05 de dezembro um novo