RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 61

A reação policial aconteceu dentro da lei. Houve um confronto e os bandidos saíram perdendo [O Globo, 07/05/2000]. Não foi a primeira vez que a idoneidade do Ministério Público foi colocada em jogo em episódios de execuções sumárias no Rio de Janeiro. No penúltimo ano do governo Marcelo Alencar, a CPI da Violência da ALERJ solicitou a alguns especialistas a análise dos laudos cadavéricos de diversos autos de resistência ocorridos entre 1993 e 1996 e constatou que em 64% dos casos as vítimas haviam levado ao menos um tiro na cabeça. Entre os encaminhamentos da CPI estava a reabertura de aproximadamente cem casos com claras evidências de execução. O coordenador da Central de Inquéritos do Ministério Público, Ricardo Martins, se recusou a reabri-los, alegando que, para tanto, era preciso emergir algum fato novo, além de argumentar que eram infundadas as denúncias de omissão dos promotores, “até porque quem arquiva é o juiz”, disse [O Globo, 22/10/97]. Apesar da declaração do promotor Ricardo Martins, uma pesquisa sobre o fluxo processual desses inquéritos analisados pela CPI da Violência apontou que 98% dos casos foram arquivados a pedido do próprio Ministério Público. De volta a março do ano 2000, enquanto o MP respondia por omissão perante CIDH em Washington, no Rio de Janeiro o órgão se preparava para sabotar a política de segurança pública vigente desferindo um golpe mortal sobre o subsecretário Luiz Eduardo Soares. No dia 02 de março, de posse de uma série de denúncias gravíssimas envolvendo membros da cúpula das polícias civil e militar alinhados às facções do tráfico de drogas, o subsecretário Luiz Eduardo Soares marcou uma reunião com o Procurador Geral, José Muiños Pinheiro Filho, da qual participaram outros promotores e deputados. Uma das justificativas apresentadas por Luiz Eduardo Soares para levar as denúncias diretamente ao MP se baseava nos números apresentados pela Ouvidoria de Polícia, demonstrando que a Corregedoria se abstinha de investigar esses casos. As denúncias envolviam, inclusive, o à época Chefe de Polícia Civil, Rafik Lozada. Surpreendentemente, um dos promotores presentes, Romero Lyra, foi a público, revelou os bastidores da reunião, expôs o Subsecretário, as denúncias e desencadeou uma crise bombástica na cúpula da segurança pública que resultou na exoneração de Luiz Eduardo Soares. O governador Anthony Garotinho criou uma comissão especial denominada Mãos Limpas para apurar as vinte denúncias de Luiz Eduardo. A essas se somaram mais cento e uma denúncias presentes em um relatório enviado ao Ministério Público pela