RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 53

que aproximadamente 98% dos chamados “autos de resistência” eram arquivados a pedido dos próprios promotores. Esse fenômeno de “legalização” das chacinas e execuções sumárias também foi observado durante a administração de Marcelo Alencar entre os matadores da Baixada Fluminense e da Zona Oeste. Desde 1991, quando a CPI do Extermínio de Menores foi concluída no Congresso Nacional, identificando a empresa Segurança Jeans, do ex- policial e matador conhecido como Pedro Capeta, como fachada para seu grupo de extermínio, responsável pela execução de dezenas de menores de idade, os serviços de segurança privada na região estiveram sob suspeita. Na Baixada Fluminense, as empresas de transporte Viação Flores, Viação Regina e Viação Santo Antônio passaram a contratar serviços de segurança particular para proteger as linhas de ônibus que transitavam pela região conhecida como “zona morta” – divisa dos municípios de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti, que passa por dez bairros. Na tarde de 20 de fevereiro de 1997, Wagner Ramiro de Melo, 16 anos; André Luiz Lopes Barreto, 15; Daniel Gomes dos Santos, 17; André Luiz Filene, 16; e Alan Justino da Silva, 16; estavam no ponto final da linha 448 da Viação Santo Antônio, que liga Caxias a Belford Roxo, quando pediram ao motorista para entrar pela frente, sem pagar as passagens. O motorista negou e os jovens entraram pela porta de trás. Segundo uma testemunha os meninos faziam algazarra no ônibus e, num dado momento, o motorista avisou a dois homens que os jovens não tinham dinheiro para pagar a passagem. Um deles sacou uma pistola e obrigou os cinco a descerem. Cada um levou um tiro na cabeça. À época a passagem custava cinquenta e cinco centavos. A partir da chacina de Belford Roxo, como ficou conhecida, praticada por supostos seguranças da Viação Santo Antônio, veio a público a relação dessas empresas com sete grupos de extermínio que passaram a oferecer serviços de segurança particular. Também a Viação Regina, assim como a Viação Flores, pagavam conhecidos matadores da Baixada para “proteger” sua frota. Os serviços de segurança oferecidos pelos chefes dos grupos de extermínio também abrangiam outros negócios e estabelecimentos comerciais. Segundo noticiado, a maior parte do serviço estava sob o comando de delegados da Polícia Civil e oficiais da PM: Esses homens são comandados por delegados da Polícia Civil ou por oficiais da Polícia Militar. Ao formarem os grupos, delegados e oficiais