RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 48

No dia oito de maio, um grupo de policiais militares chacinou treze pessoas na favela Nova Brasília. Era a segunda chacina na favela em seis meses. Vinte e seis mortos no total. Nessa segunda chacina, pelo menos dez pessoas morreram com tiros na cabeça. Os corpos foram retirados em um carrinho de mão e jogados pelos policiais em um caminhão de lixo antes da chegada da perícia. Os policiais civis alegaram que as vítimas morreram em confronto e chegaram a ser elogiados por seus atos de heroísmo, como consta no processo aberto na Corte Interamericana de /direitos Humanos da OEA – que resultou na primeira condenação do governo brasileiro na Corte. Nenhuma investigação foi realizada. No dia seguinte à chacina, uma criança de 10 anos de idade foi assassinada com um tiro na cabeça por agentes da Delegacia de Repressão a Roubos de Carga na Favela do Lixão, em Caxias. Os policiais civis estavam fazendo uma operação no local, quando moradores começaram um protesto. Durante o tumulto um estabelecimento comercial foi saqueado. A polícia perseguiu os ladrões, que invadiram uma casa. O menino Iron dos Santos se preparava para ir à escola quando os mesmos adentraram sua casa. Em seguida os policiais civis chegaram e a criança tentou se esconder embaixo da cama. Foi assassinado por um dos detetives com um tiro na cabeça. No mesmo dia a polícia militar de Minas Gerais libertava do cativeiro a estudante Paula Zamboni, de treze anos, sequestrada por uma quadrilha integrada por policiais militares do Rio de Janeiro. Na semana seguinte o general Newton Cerqueira assume a Secretaria de Segurança Pública e alerta que O Rio vive um clima inquietante de terror urbano devido à ação desses chefes do crime organizado. Esse terrorismo tem consequências piores que uma guerrilha urbana. Criminalidade, onda de violência e sequestros têm origem nas favelas, onde eles atuam à vontade submetendo os favelados ao seu domínio. Vamos combater imediatamente isso, para cortar o mal pela raiz.