RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 18

sumária, fuzilando os perseguidos. Esse tipo de polícia é incompatível com as exigências de um Estado Democrático de Direito no qual o exercício do poder público se faz às claras, submetido ao controle da sociedade civil [O Globo, 22/10/83] Durante décadas a experiência de “batidas” policiais nos morros do Rio de Janeiro era muito semelhante a que sucedeu na Cidade de Deus. Quando a polícia entrava em uma favela, tudo era permitido. Invasões de residências, espancamentos, roubos, destruição de bens, tortura, estupro, sequestro e assassinatos eram práticas cristalizadas nas operações e não havia limites para o seu exercício. Para Leonel Brizola, a relação entre a polícia e as favelas deveria passar por uma transformação radical. Para tanto, em caráter mais emergencial, proibiu as incursões policiais nessas áreas. Sua proposta mais ousada, entretanto, viria com o projeto de policiamento comunitário instituído em algumas favelas durante o seu governo, sob o comando do general Cerqueira. Os princípios de integração comunitária que regeriam a Polícia Militar a partir de então se encontram sintetizadas nesse trecho do Plano Diretor da PMERJ 1983-86: Promover, adaptando a estrutura policial-militar às exigências da segurança pública, o ajustamento comportamental da organização dentro de uma nova concepção de ordem pública, na qual a colaboração e a integração comunitária sejam os novos e importantes referenciais, o que implica um novo policial e uma nova polícia. Em decorrência da chacina ocorrida em janeiro, a Cidade de Deus foi escolhida para ser a primeira favela a receber a experiência de policiamento comunitário do governo Brizola. O programa foi elaborado pelo comandante da Polícia Militar Ille Marlen e submetido à aprovação do coronel Cerqueira. A partir de junho, o Destacamento de Policiamento Ostensivo da Cidade de Deus seria transformado no Centro Integrado de Policiamento Comunitário [CIPOC]. Conforme noticiado: Com o novo projeto a polícia coordenará cinco grupos que zelarão pela segurança e tentarão solucionar os problemas da comunidade: o DPO, que tem como uma de suas prioridades a instalação de uma cabine da PM no conjunto Gabinal Margarida (onde morreram os cinco rapazes); o Grupo de Apoio Comunitário (GAC); dentro do qual os moradores participarão do esquema de policiamento da Cidade de Deus, com direito a críticas e sugestões; o Grupo de Assistência Social (GAS), em que profissionais da especialidade e moradores, estes devidamente orientados, darão atendimento a mulheres e crianças; o Grupo de Patrulhamento Mirim (GPM), no qual 60 crianças, de 8 a 12 anos, serão selecionadas pelo 15º DEC com a missão de “patrulhar” o trânsito na