RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 117
de envolvimento policial. Outro relatório da Anistia Internacional mostras que dos 220
registros decorrentes de intervenção policial feitos em 2011, 183 permaneciam em
aberto em 2015. Esse tema, inclusive, foi alvo da CPI dos Autos de Resistência, cujo
relatório foi apresentado em de 2016, também proposto pela Comissão de Direitos
Humanos da Alerj, ainda coordenada por Marielle.
Como se não bastasse, Marielle era mulher e negra, alvo preferencial não apenas de
violência em geral, mas de ações sometidas por agentes do Estado. Segund pesquisa
realizada pelo Datasus e pelo Instituto Igarapé, mulheres negras foram 62,8% do total
de mulheres mortas por agressões em 2015. Em 2006, elas eram 44%. As negras
também foram maioria entre as mulheres mortas por ação violenta de agentes do
Estado: 52% eram pardas e pretas contra 31% de brancas. O sexismo é um mal que se
agrava muito quando é somado ao racismo. Não apenas as bandeiras levantadas por
Marielle Franco eram urgentes – sua simples existência era particularmente explosiva.
Por fim, é importante destacar que o crime cometido contra Marielle e Anderson já leva
mais tempo para ser solucionado que outros crimes que tiveram a mesma comoção
popular no passado recente do país. Os casos do pedreiro da Rocinha, Amarildo, e o da
juíza Patrícia Acciolly, por exemplo, levaram, respectivamente, três meses e um mês
para serem solucionados. O tempo, neste caso, torna-se cada vez mais um inimigo
porque implica descaracterização de provas, dispersão e assassinato de testemunhas, por
exemplo.
Em 14 de novembro de 2018, no oitavo mês de aniversário da morte não solucionada
de Marielle e Anderson, a Anistia Internacional divulgou um levantamento chamado “O
Labirinto do Caso Marielle Franco”, destinado a reunir as principais notícias e dúvidas
sobre o caso. Além disso, denuncia alguns erros cometidos pela polícia. Em primeiro
lugar, não teria sido feito um exame de Raio-X nos corpos de Marielle e Anderson por
falta de equipamento em estado de funcionamento. O carro utilizado no crime,
encontrado dias depois, não teria sido armazenado de forma adequada e exposto
indevidamente. Uma outra testemunha encontrada pelo Jornal O Globo e até então não
ouvida pela Polícia, teria afirmado que policiais militares mandaram testemunhas
oculares se afastarem do local, testemunhas essas que não teriam sido procuradas depois
para prestar depoimento. Por fim, um homem mencionado pela imprensa como um dos