RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 113

democraticamente eleita havia acabado de ser executada, muito provavelmente, por motivações políticas. Os dias subsequentes ao assassinato, portanto, foram marcados por inúmeros atos populares, quando centenas de milhares de pessoas ocuparam as ruas pressionando por uma rápida resolução do caso. Imprensa e entidades internacionais pressionavam igualmente pelo desvendamento do crime. Nas ruas e nos muros da cidade, a palavra de ordem foi, e continua sendo: “Quem matou Marielle e Anderson? Quem mandou matá-los?”. No entanto, apesar de toda essa repercussão, e aí está a segunda característica que singulariza este caso, muito pouco se sabe oficialmente sobre a execução de Marielle e Anderson até a data de finalização deste relatório. Desde o início, entretanto, as informações divulgadas pela imprensa levaram a opinião pública a acreditar que a principal linha de investigação trabalharia com a hipótese de execução. Isso porque, para além de sua trajetória de denúncia de milicianos e agentes do estado, quatro dias antes de sua morte, Marielle havia denunciado em suas redes sociais o “extermínio de jovens por policiais” na favela de Acari, área da cidade de competência do 41º Batalhão da Polícia Militar (BPM), o mais letal do Rio de Janeiro segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe” – indagou Marielle ao final dessa denúncia na internet, fazendo referência àquilo que costumava chamar de “guerra aos pobres”. Ainda hoje, não é possível saber se a execução de Marielle foi motivada pelos crimes que ela denunciou publicamente – dois deles na área do 41º BPM. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, responsável pela investigação, mantém o caso sob sigilo absoluto e não divulgou nenhum relatório conclusivo nos oito meses que se seguiram às mortes de Marielle e Anderson. Pior, em diversas vezes divulgou informações contraditórias e inconsistentes, como no caso da arma utilizada no assassinato. Inicialmente, a informação divulgada à imprensa era de que uma pistola de calibre de 9 milímetros com silenciador havia sido utilizada no crime. Atualmente, a polícia trabalha com a hipótese de que a arma tenha sido uma submetralhadora alemã de precisão HK MP5, com calibre de 9 milímetros. A arma, desenvolvida na década de 60 pela empresa alemã Heckler & Koch, possui capacidade de disparar 13 tiros por segundo. No Brasil, a arma de alta precisão é normalmente utilizada por forças policiais de elite. A Polícia Civil do Rio de Janeiro teria 60 unidades e a Polícia Militar d Rio de