RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 10

trabalha nesse Estado. A distância entre a Justiça e a Polícia nem sempre permite um combate mais eficaz ao crime e aos criminosos. Assim, só nos resta falar a mesma linguagem deles: a lei do cão. Sempre que contarmos com o apoio do Secretário de Segurança que queira ver a cidade livre do crime, nós trabalharemos. Foi assim na época do General Kruel, do Coronel Borges e está sendo agora com o General França. Esperamos que o distinto povo da Guanabara compreenda nossa intenção. No ano de 1982, quando a campanha para as primeiras eleições diretas para os governos estaduais se desenrolava a pleno vapor, a histórica relação entre o alto escalão das Forças Armadas, as polícias do Rio de Janeiro e os grupos de extermínio havia atingido seu ápice. Na capital e na região metropolitana as investidas policiais contra as favelas primavam por uma ferocidade que não concebia limites. Em setembro, a um mês do pleito, o Jornal do Brasil publicou uma das fotografias mais significativas e impactantes sobre a relação entre as polícias do Rio de Janeiro e os moradores de favelas. Nela, um cabo da PM segura a ponta de uma corda que enlaça, pelo pescoço, sete rapazes negros, moradores do Morro da Coroa, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Sua legenda dispensa complemento: “Batida da PM nos morros lembra gravura colonial de Debret. Como escravos, corda no pescoço, constrangidos, os homens esperam. O cabo tinha na cintura algemas”.