Rede em Revista - Teste Edição Novembro 2018 | Page 32

“Participar do evento de hoje me fez refletir sobre língua de herança de forma que eu não havia pensado ainda. A primeira coisa que vem à mente é sobre a importância da família na conservação da língua de herança. Se não falamos o português com nossas crianças, quem vai falar? É necessário manter esse hábito, tanto com a criança somente quanto em situações em que a criança está presente com falantes de outras línguas. Quando temos vergonha de falar a língua da família na frente de estranhos ou de quem não a entende, a mensagem que passamos é de que a língua precisa ser particular e nunca uma experiência digamos, compartilhada. Explico: ela não merece ser ouvida, nem seus sons, nem seus possíveis significados. Qual é o valor de se manter algo que deve ser escondido? Isso vai contra a própria ideia de se manter a língua na família.

Expor a criança à eventos culturais e folclóricos que acontecem nas comunidades brasileiras no exterior é algo que também é importante. As crianças não só aprendem sobre as celebrações em si mas também sobre o trabalho daqueles que — estrangeiros como os membros da própria família dela — criam um outro Brasil no país novo, se adaptando, resistindo e dando exemplo de cidadania e preservação das origens. Isso também mostra, às nossas crianças, que a cultura daquele país de onde seus pais e avós vieram vale a pena ser vivida e experimentada, e que não deve ser esquecida já que é o que constrói os cidadãos a ela conectados. Minha filha sempre fica surpresa ao ver as festas juninas aqui na Califórnia, por exemplo, onde há tantas comidas típicas, trajes e danças do nosso Brasil. Ela agora entende que fazer cada festa junina onde vai, e que adora, dá trabalho e envolve a persistência de muita gente em manter algumas das tradições brasileiras aqui.

Foi bom também ver que o empenho dos educadores da nossa escola comunitária aqui no norte da Califórnia, o IBEC, que continuam empenhados na missão de ensinar a língua portuguesa para as crianças de nossa comunidade. As escolas de língua de herança como o IBEC também validam a presença das famílias e da própria comunidade brasileira neste estado, nos lembram o quanto é necessário manter a língua portuguesa entre nossos jovens cidadãos binacionais, nos mostram que nós falantes de português somos muitos e valiosos em um estado rico em diversidade cultural.”

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