PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 90

história i saveiros Barcos que sustentam uma economia Os saveiros ‘carregaram’ em seu casco o possível e imaginável da Baía de Todos-os-Santos a diversas localidades às margens do Rio Paraguaçu. Entre o início do século XVII e meados do século XX, as embarcações foram o principal meio de locomoção no Recôncavo. Transportavam de tudo: frutas, farinha, fumo e até gado. O desembarque era na rampa do Mercado Modelo e nas feiras do Porto da Barra, de Itapagipe e de Água de Meninos. Na volta, materiais de construção, eletrodomésticos e, principalmente, querosene. “Tinha um saveiro chamado ‘Quero Shell’. A Shell produzia o combustível na época e, por onde o barco passava, as pessoas gritavam: ‘quero Shell”, conta Pedro Bocca. Os saveiros integravam a cultura local, utilizados em procissões, festas de santos e até casamentos. A baía vivia apinhada. “O saveiro era um elemento da vida social”, completa. Com o advento das estradas, a fabricação de carros e, depois, de caminhões, os saveiros se tornaram desnecessários. A decadência se deu entre as décadas de 1940 e 1950. “Quando não tinha estrada, nem carro, não faltava trabalho”, confirma Dégo. O desaparecimento foi inevitável. Hoje, sobrevivem de fretes de carregamento de areia, pedra e materiais de construção para áreas menos acessíveis. O número de rotas diminuiu bastante. Mas, dois dos barcos sobreviventes, um deles o Sombra da Lua, ainda fazem o tradicional percurso entre Maragojipinho e Salvador, onde descarregam as famosas cerâmicas, também conhecidas como caxixis. o 15 de agosto restaurado mesmas rotas de 400 anos atrás 90 I Poderes em Revista