PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 89

mestre dégo: “Ninguém aprende com ninguém a fazer saveiro” de barcos de 10, 12 e 14 metros de comprimento. O problema é que, em uma relação praticamente metafísica, só eles conseguem decifrar o pedaço de tábua, também cheio de vida e ancestralidade. A sabedoria de usar o graminho de saveiro continua um mistério. “Eu pergunto: ‘como você fez isso?’ Eles respondem: ‘não sei, só sei que é assim’”, conta Bocca, reproduzindo o diálogo com os empíricos especialistas. Um desses mestres é Fidélis da Conceição, de 83 anos, o Dégo. Ele mantém uma relação de amizade – quase fraternal – com os saveiros desde os anos 60, quando abriu um estaleiro em Maragojipe. “Ninguém aprende com ninguém a fazer saveiro. Comecei com outro mestre, mas ele não me ensinou nada. Aprendi metendo a mão”, garante ele, herói ao sustentar 13 filhos com seu trabalho. Comandou a restauração do Sombra da Lua e se lembra dos áureos tempos. “Naquela época todo mundo dependia do saveiro”, lembra, melancólico. Conhecer a arte de navegar é outro mistério. Poucos saveiristas sabem manipular as velas rústicas e manter o barco aprumado. “É com o tempo. Tem que conversar com o bicho e seguir em frente”, ensina o mestre Antônio Jorge, que assumiu o Sombra devido a um problema de saúde do experiente Bartô. Pedro Bocca, também conhecedor do mar, admira a destreza dos amigos. “Eu navego h :