“Aí as pessoas perceberam que
não somos um bando de malucos
apaixonados por barcos velhos”, diz o
presidente da associação, o engenheiro Pedro Bocca, que saiu do interior
de São Paulo para trabalhar na Bahia
há 35 anos e nunca mais voltou.
As dificuldades para preservar
a história só não são maiores que
a força da tradição. Primeiro, o
bolso: os custos podem chegar a
R$50 mil. Depois, a mão-de-obra:
inevitavelmente se recorre a mestres
carpinteiros com métodos quase
ancestrais para fazer uma reforma
e deixar o equipamento com as
mesmas características daqueles de
quatro séculos atrás. Além do mais,
como já se disse, o saveiro é cheio de
vontades. Uma vela, por exemplo,
só pode ser vestida em determinada
embarcação. A restauração completa
leva até seis meses.
Nilton Souza
história i saveiros
Dos mais de
1,5 mil barcos
existentes no
século passado,
restam 18
“Como o modo de fazer um
saveiro não está escrito em lugar
nenhum, tirar isso da cabeça dos
mestres e botar no papel torna-se o
grande desafio. Nosso objetivo não
é só resgatar o saveiro, mas também
o conhecimento de fazer e manter o
barco”, explica Bocca.
A técnica não está escrita, mas,
esculpida. Mestres carpinteiros costumam se basear em uma lasca de
madeira chamada graminho, onde
estão as proporções para a construção
88 I Poderes em Revista
bocca:
engenheiro apaixonado
pelos barcos seculares