PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 88

“Aí as pessoas perceberam que não somos um bando de malucos apaixonados por barcos velhos”, diz o presidente da associação, o engenheiro Pedro Bocca, que saiu do interior de São Paulo para trabalhar na Bahia há 35 anos e nunca mais voltou. As dificuldades para preservar a história só não são maiores que a força da tradição. Primeiro, o bolso: os custos podem chegar a R$50 mil. Depois, a mão-de-obra: inevitavelmente se recorre a mestres carpinteiros com métodos quase ancestrais para fazer uma reforma e deixar o equipamento com as mesmas características daqueles de quatro séculos atrás. Além do mais, como já se disse, o saveiro é cheio de vontades. Uma vela, por exemplo, só pode ser vestida em determinada embarcação. A restauração completa leva até seis meses. Nilton Souza história i saveiros Dos mais de 1,5 mil barcos existentes no século passado, restam 18 “Como o modo de fazer um saveiro não está escrito em lugar nenhum, tirar isso da cabeça dos mestres e botar no papel torna-se o grande desafio. Nosso objetivo não é só resgatar o saveiro, mas também o conhecimento de fazer e manter o barco”, explica Bocca. A técnica não está escrita, mas, esculpida. Mestres carpinteiros costumam se basear em uma lasca de madeira chamada graminho, onde estão as proporções para a construção 88 I Poderes em Revista bocca: engenheiro apaixonado pelos barcos seculares